Boom "high-tech" segura Israel na crise: Desenvolvendo na adversidade

Estando em uma Faculdade de Tecnologia, onde os conhecimentos nas áreas biológicas e de engenharia deveriam ser complementares, como é o caso da UNESP Ilha Solteira, sonhamos ainda com o nosso Polo Tecnológico, onde Agronomia, Biologia, Zootecnia, Engenharias, apoiados por Matemáticos e Físicos possam se juntar para ser a mola propulsora do desenvolvimento sócio-econômico da região.

Sobre isso em março de 1994 publicamos na então Folha da Ilha o artigo "UNESP: Tecnologia regionalizada", que lamentavelmente julgamos ser uma análise ainda atual. Como disse o Jornalista e autor de "Start-Up Nation" Saul Singer "Uma economia baseada em "startups" [empresas iniciantes e que apostam em novas tecnologias] é menos vulnerável a crises, porque essas empresas não precisam de muito dinheiro para surgir".

Uma dica de leitura é o livro "StartUp: Uma aventura no Vale do Silício" de Jerry Kaplan, fundador da extinta GO Corporation, empresa foi fundada 1987, depois de um conversa de Jerry e Michell Kapor (o criador do Lotus 1-2-3) com o objetivo de criar um computador portátil operado à caneta, nomeado de PenPoint e a base tecnológica (algoritmo) originada em sua Tese de Doutorado. No livro estão detalhes desde a concepção da ideia até a extinção da empresa em 1994, depois de ser comprada pela AT&T.

É, sem dúvida, um relato impressionante de como funciona o lançamento de novas empresas no Vale do Sílicio. Alguns capítulos, por exemplo, mostram o desespero de Jerry e os outros executivos da GO em busca de mais investimentos e parcerias para capitalização da empresa, que já valia milhões de dólares sem ter nenhum protótipo do produto. Além disso, relata importantes passagens com personagens e corporações importantes do mundo da informática, como Mitchell Kapor, John Sculley e Bill Gates, e disputas legais contra Microsoft, deixam o livro mais empolgante ainda. Sem falar que o livro é a história pura da informática moderna, onde se lançou uma ferramenta de trabalho inovadora (caneta ao invés de teclado), mas para usuários ainda não preparados para, mas que pavimentou o sucesso do que na sequencia seriam os Palmtops (ou hand-helds), hoje popularizados. Abaixo uma foto do PenPoint Tablet PC da GO.

A matéria a seguir publicada ontem na Folha de São Paulo mostra como Israel, com toda a adversidade se firma no mercado de alta tecnologia e serve de incentivo. Confira!

Boom "high-tech" segura Israel na crise
País, que atravessou turbulência sem grandes arranhões, só perde para os EUA em número de novas empresas inovadoras

Com apenas 7 milhões de habitantes, Israel tem 4.000 empresas de tecnologia e o maior índice per capita do mundo de engenheiros

Sentado em seu escritório, situado num grande shopping center a poucos metros do mar Mediterrâneo, o israelense Tal Keinan abre um sorriso confiante ao ser indagado aonde pretende chegar com a empresa de tecnologia que fundou com um amigo em 2006, quando tinha apenas 27 anos.

"Quero ser Google", responde à Folha o jovem de cabelos longos e jeito de surfista, sonhando com o dia em que o programa de pesquisa on-line de sua empresa se torne tão difundido quanto o mecanismo de busca mais popular da rede.

A ambição de Keinan é um retrato do setor de tecnologia de Israel, destaque de uma economia que passou sem grandes arranhões pela crise global e foi uma das primeiras a sair dela. Segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), o país deve crescer 2,4% em 2010, uma das taxas mais altas entre países desenvolvidos.

Confinada a publicações especializadas ou ofuscada pelas notícias do conflito, é uma história de sucesso com alguns números que devem impressionar os empresários brasileiros que acompanharão o presidente Lula em sua visita a Israel, daqui a uma semana.

Israel tem o segundo maior número de "startups" (empresa iniciante que aposta em novas tecnologias) do mundo em termos absolutos, só atrás dos EUA. É de longe o país estrangeiro com mais empresas cotadas no Nasdaq (60), a Bolsa de Valores eletrônica dos EUA.

Sob condições históricas sempre adversas, em Israel o encontro da necessidade com planejamento e espírito empreendedor produziu um celeiro de inovação que atrai investimentos em maior escala do que em qualquer outro país.

Em 2008, as empresas de tecnologia israelenses receberam 2,5 vezes mais capital de risco (per capita) do que os EUA e 30 vezes mais que a Europa. Não falta financiamento para jovens empreendedores e com boas ideias, como Keinan.

E eles são muitos. Existem cerca de 4.000 empresas de tecnologia em Israel e mais de cem fundos de capital de risco. Inovações desenvolvidas no país incluem o pioneiro serviço de mensagem instantânea ICQ, vendido por US$ 407 milhões à AOL, o chip Pentium (Intel) e a pílula de vídeo que permite a visão dos intestinos sem necessidade de cirurgia.

Por trás dessa profusão de ideias está uma mistura de fatores históricos que produziram uma cultura atraída por tudo o que é novo e com baixíssima aversão ao risco. Um temperamento muitas vezes definido com a quase intraduzível palavra judaica "chutzpah", algo entre a audácia, o atrevimento e o despudor.

"Está no nosso DNA", explica Gil Hirsch, 37, um dos fundadores da empresa Face.com, que criou um programa destinado aos usuários da rede de relacionamento Facebook que querem localizar fotos suas postadas por terceiros na rede. "Chutzpah é não aceitar não como resposta."

O DNA ajuda, mas o empreendedorismo israelense também se beneficiou de um significativo empurrão estatal. Nos anos 90, o governo criou um programa que impulsionou o setor de capital de risco no país com uma proposta tentadora: o Estado entrava com 50% do capital, e o investidor, com 100% do lucro.

Na mesma década, uma onda de imigrantes da antiga União Soviética ampliou a oferta de mão de obra qualificada no país. Israel tem hoje o maior índice per capita de Ph.Ds e engenheiros do mundo.

Para muitos, entretanto, o principal catalisador do que já foi chamado de "milagre econômico israelense" é o Exército. Não são poucos os companheiros de quartel que se tornaram sócios em "startups" após largarem a farda.

Além de investir pesadamente em pesquisa tecnológica, o Exército dá a jovens soldados (a maioria serve pelo menos dois anos) a chance de receber formação técnica de ponta com atributos que toda empresa busca, como liderança e trabalho em equipe.

Para Keinan, que fez o serviço militar na principal unidade de computação do Exército, o que mais marcou foi o "choque de responsabilidade".
"Você se vê cercado de garotos, tendo que resolver problemas de gente grande", diz Keinan. "Isso cria uma capacidade de resolver problemas que nunca mais o abandona."


Inovação vem das adversidades, diz autor
Um livro lançado nos EUA tenta explicar como um país menor que Sergipe, com apenas 7 milhões de habitantes e constantemente em guerra tornou-se um dos maiores celeiros tecnológicos do mundo.

Para escrever "Start-Up Nation" ("A Nação "Startup'", ainda sem tradução para o português), os americanos Saul Singer e Dan Senor fizeram centenas de entrevistas e mergulharam em pesquisa histórica para explicar um milagre econômico geralmente ofuscado pelas notícias sobre o conflito na região de Israel.

Em entrevista à Folha num café de Jerusalém, onde vive, o jornalista Singer contou que o motor do fenômeno é uma cultura de empreendedorismo que tem origem na história judaica, é forjada no serviço militar e gera uma inesgotável fonte de inovação que coloca Israel à frente de gigantes como China, Índia e Japão em número de empresas de tecnologia.

FOLHA - O que explica a enorme fecundidade do setor de tecnologia israelense?
SAUL SINGER - Uma teia cultural com muitos atributos diferentes. Entre eles a história dos judeus e de Israel, as permanentes condições adversas, os boicotes e guerras, a imigração, os poucos recursos naturais. Tudo isso convergiu para formar uma cultura que é ao mesmo tempo inovadora e também empreendedora.
Há países que são tão inovadores quanto Israel no que diz respeito ao número de patentes, como Japão e Coreia do Sul. Mas neles as pessoas criativas tendem a trabalhar em grandes empresas. Em Israel elas abrem uma "startup". Países como Brasil têm alto nível de empreendedorismo, mas isso não se traduz em igual volume de inovação tecnológica.

FOLHA - Como isso ajudou a proteger Israel da crise?
SINGER - Um economia baseada em "startups" é menos vulnerável a crises, pois essas empresas não precisam de muito dinheiro para surgir. Como um país de 7 milhões de pessoas capta 2,5 vezes mais capital de risco per capita do que os EUA?
Não é que a crise não afetou Israel, mas afetou menos. Em 2009, o capital de risco caiu em Israel 40%, mas a queda foi de 59% nos EUA. Toda vez em que há uma crise, Israel aumenta sua fatia de captação de capital. Além disso, "startups" tendem a surgir em épocas de vacas magras, como aconteceu com a Microsoft e o Google.

FOLHA - Qual o papel do Exército israelense?
SINGER - O mais interessante é seu papel social e cultural. Não falamos só de tecnologias civis desenvolvidas em projetos militares, o que acontece em muitos outros países. O que o Exército israelense tem é uma experiência diferente, não é universidade, não são negócios, é algo entre os dois.
Isso dá maturidade, produz liderança, trabalho em equipe, improvisação, um sentido de missão, todos elementos muito fortes da cultura. Sempre pensamos na estrutura militar com uma hierarquia sólida, formal, de cima para baixo, mas em Israel isso só existe no treinamento básico.
Depois, é tudo muito informal, oficiais de 22 anos tratam generais pelo primeiro nome. Você é ensinado a seguir a sua cabeça, não só a cumprir ordens, e é forçado a improvisar.

FOLHA - Como isso conduz ao empreendedorismo?
SINGER - O mundo do "startup" também é não hierárquico, não respeita regras. Os israelenses terminam o serviço militar e encontram o mesmo ambiente fora. Além disso, o Exército tem unidades específicas voltadas para a tecnologia. A mais conhecida é a unidade 8200, cujo objetivo é desenvolver alta tecnologia para fins de inteligência, mas que acaba gerando ideias para fins civis.
Há muitos exemplos, como a FraudSciences, empresa israelense que detecta fraudes de cartões de crédito [foi vendida em 2008 para o Ebay por US$ 169 milhões]. Eles usaram tecnologia feita para localizar terroristas na internet para pegar fraudes.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Por que a água evapora sem estar a 100° C ?

A Importância da DBO

Pivô central: história e características