Safra recorde deve reduzir preço da soja

Produtores iniciam a colheita apreensivos com a perspectiva de queda na cotação e temem não cobrir custos da lavoura

Com aumento da área plantada e clima favorável, produção global avança 20%, e estoque de países produtores deve crescer 40%

Produtores de soja do Centro-Oeste iniciaram a colheita neste mês apreensivos com a perspectiva de queda nos preços internacionais. A cotação do grão é pressionada por projeções de safras recordes nos três maiores exportadores, EUA, Brasil e Argentina. O aumento da área plantada e o clima favorável resultaram na expansão de 20% na produção mundial, o que deve elevar o estoque dos países produtores em 40%, diz o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da USP.

Apesar de os gastos com custeio terem caído de 10% a 20% neste ciclo, o cenário é menos favorável ao produtor do que em 2009, quando a quebra de 31% na safra argentina e a forte demanda chinesa garantiram altos preços mesmo durante a colheita -cerca de US$ 10 por bushel, que equivale a 27,2 kg de soja. A cotação do dólar, que caiu de R$ 2,30 para cerca de R$ 1,80 nos últimos 12 meses, também prejudica o sojicultor.

"Quem não travou [o preço] nada está preocupado por causa da cotação [que tende a cair] e porque a perspectiva é ruim para a safrinha do milho, que mantém preços baixos e estoques altos desde o ano passado", diz o produtor Eduardo Pagnoncelli Peixoto, 52. Há dez dias, ele iniciou a colheita dos 2.400 hectares que plantou em sua propriedade, dividida entre os municípios de Chapadão do Céu (GO) e Costa Rica (MS). Para garantir um preço médio, Peixoto vendeu antecipadamente 60% da produção em outubro e novembro por US$ 19 a saca de 60 kg - R$ 34,4 pelo câmbio de ontem.

Com apenas 20% da produção vendida antecipadamente, Rogério Antonio Sandri, 35, teme não cobrir os custos da lavoura se a cotação da soja continuar caindo. "Estou apreensivo porque já não consigo fechar negócio por R$ 35 [a saca]. Abaixo disso, tenho prejuízo", diz ele, que plantou 830 hectares em Chapadão do Céu. Ontem, o preço da saca era de cerca de R$ 32 no município. Referência em produtividade no Centro-Oeste, a região dos chapadões, que compreende o sul de Goiás e o norte de Mato Grosso do Sul, havia colhido 10% de seus 400 mil hectares até o último fim de semana.

Conforme dados da Fundação Chapadão, mantida por produtores locais, as lavouras devem produzir de 55 a 58 sacas por hectare neste ano, ante 52 sacas do ciclo anterior. Para Lucilio Alves, pesquisador do Cepea, a demanda da China será inferior à oferta neste ano e a supersafra deve recompor os estoques dos principais países exportadores. "Não tem como segurar o preço nessa situação. A cotação deve cair até março, época em que os produtores precisam vender para pagar dívidas."

Para o economista e professor da GV Agro Alexandre Mendonça de Barros, o preço da soja deve cair um pouco se as grandes safras no Brasil e na Argentina se confirmarem, mas há um "viés de estabilidade" em torno de US$ 9,7.

Milho lota armazéns e impede sojicultor de guardar produto

O represamento de milho nos armazéns gerais do Centro-Oeste, provocado pela superprodução de 2009 e pelos preços baixos do cereal, impedirá o armazenamento da soja que começa a ser colhida na região, segundo produtores e proprietários de armazéns.

Sem alternativas para guardar o grão, a maioria dos sojicultores terá de entregar o produto logo após a colheita para as "tradings", empresas que compram e exportam. Depois de receber, essas empresas esmagam ou mandam a soja para outro país, mantendo a capacidade de recebimento.
Com poder de negociação reduzido, o produtor terá duas alternativas: vender imediatamente ou entregar o grão para as empresas e ficar com uma carta de crédito em mãos, que lhe permite faturar no futuro.

Hoje, o milho estocado na Jardim Armazéns Gerais, de Chapadão do Céu (GO), ocupa 60% dos quatro silos da empresa, que suportam 300 mil sacas ao todo, segundo o proprietário, Marcus de Oliveira, 39.

Dos armazéns do Centro-Oeste que guardam grãos para a Conab, 80% estão na mesma situação, conforme ele. Já as "tradings" não recebem tanto milho e, por isso, estão "esperando a soja de boca aberta".

Emílio Garcia, 31, que planta soja em Chapadão do Sul e em Jataí (GO), diz que, em 2009, guardou parte da produção até o fim de julho, na expectativa de vender melhor na entressafra, quando a soja tende a se valorizar. Neste ano, não conseguiu espaço em nenhum dos 27 armazéns de Chapadão do Céu. "As empresas vão se prevalecer da situação porque não temos onde guardar. Vão dizer: "O preço é esse aí, entrega o grão e pronto"." No mercado da soja de Chapadão do Céu, atuam seis "tradings".

* Os jornalistas GUSTAVO HENNEMANN e MARCELO JUSTO (Agência Folha) viajaram à Chapadão do Céu (GO) a convite da New Holland.

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