ECONOMIA - Com a globalização, diminui a volatilidade das commodities

Geraldo Barros*
Especial para a Folha

As commodities formam um grupo heterogêneo na sua composição, mas bastante consistente sob os pontos de vista econômico e financeiro.

Englobam os produtos agropecuários, da pesca e florestais, assim como os minerais (inclusive petróleo) e metais.

Como possuem padrões aceitos mundialmente, podem ser negociadas impessoalmente nas Bolsas de Mercadorias mundiais.

Nesse sentido, as commodities se contrapõem aos bens industrializados, que são transacionados com marcas, que os diferenciam objetiva ou subjetivamente perante os compradores.

Da capacidade de diferenciar resulta o poder de fixar preços, o que está fora do alcance dos produtores de commodities.

As commodities, por serem armazenáveis, têm preços extremamente sensíveis às condições de liquidez e às taxas de juros.

Por exemplo, uma política de alta de juros vai, num primeiro momento, derrubar os preços de commodities, pois os detentores de seus estoques desejarão reduzir suas posições e aplicar em títulos que rendam mais.

Somente quando tenham caído o suficiente os preços voltarão a subir, remunerando os investidores em nível compatível com o aperto no mercado financeiro.

A queda é, em geral, muito maior do que a que se dá nos preços dos produtos industriais e de serviços.

Analogamente, quando os juros caem, a alta das commodities é muito maior que a dos demais bens e serviços.

Esses "swings" (oscilações) de preços prejudicam não só os "traders", mas os produtores, especialmente os de alimentos, e centenas de milhões de consumidores que são famílias e países, que ainda se debatem com os problemas da pobreza.

Daí a importância do estudo que David S. Jacks e seus colegas fizeram para o National Bureau of Economic Research (NBER/EUA), que volta ao ano de 1700 para comparar os preços de commodities a preços de outros tipos de bens e serviços.

Primeira pergunta: os preços de commodities sempre foram mais voláteis? Resposta: sim, categoricamente. Segunda pergunta: a sua volatilidade aumentou ao longo do tempo? Resposta: com certeza, não.

Qual a relação entre globalização (maior integração de mercados) e volatilidade?

Resposta: a globalização reduziu a volatilidade. Esse último aspecto resultaria do balanço entre duas forças. Por um lado, a globalização tenderia a reduzir a volatilidade resultante das variações de oferta regionais (por razões climáticas, por exemplo) ao agregar e abastecer o mercado com produções de diferentes regiões do mundo.

Por outro, a globalização poderia desestabilizar a demanda devido a ocorrências macroeconômicas, com seus "booms" (expansões) e "busts" (retrações) e consequentes "swings" de preços.

Os autores concluíram que o efeito estabilizador do lado da oferta predominou sobre o efeito turbulento do lado da demanda, daí a menor volatilidade. Ainda bem!

*Geraldo Barros é professor titular da USP/Esalq e coordenador científico do Cepea/Esalq/USP.

Fonte: Folha de S.Paulo, sábado, 26 de junjho de 2010, mercado B5.

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