Editorial da Folha de São Paulo: Procura-se engenheiro

Carências do país na área de engenharia são dramáticas e evidenciam necessidade de avanços educacionais para aumentar a competitividade

O crescimento econômico vai cobrando a conta das deficiências educacionais que persistem no país. A situação na área de engenharia, conforme mostrou reportagem publicada ontem pela Folha, é dramática.

Entidades do setor estimam que o Brasil perca algo como US$ 15 bilhões (R$ 26,5 bilhões) por ano com falhas em projetos de obras públicas. O valor, em torno de 1% do Produto Interno Bruto, veio à luz em Curitiba, na semana passada, durante a realização de encontro nacional de engenheiros.

De acordo com a CNI (Confederação Nacional da Indústria), cerca de 150 mil vagas para profissionais formados em engenharia não terão como ser preenchidas até 2012. A evasão, nos 1.374 cursos existentes no país, alcança 80%. Dos 150 mil alunos que ingressam no primeiro ano, só 30 mil concluem os estudos.

O diretor da Escola Politécnica da USP, uma das mais conceituadas do país, estima que apenas 1 em cada 4 estudantes ingressa no mercado com formação adequada. Em sua avaliação, não passam de 10 mil os engenheiros que deixam as escolas anualmente com a necessária competência.

O gargalo traduz-se em mais custos e menos competitividade para as empresas. Muitas delas veem-se compelidas a compensar o desequilíbrio com investimentos em cursos próprios e convênios com faculdades. Cerca de 76% das empresas brasileiras possuem programas de treinamento e formação de mão de obra.

Gasta-se na educação formal e, de novo, no treinamento corporativo, que não raro vai oferecer ao estudante o que ele já deveria ter aprendido na escola. Com isso, em áreas cruciais como a engenharia, o Brasil vai ficando para trás na competição com outras economias emergentes -ao mesmo tempo em que o preço da mão de obra qualificada se eleva.

A Amcham (Câmara Americana de Comércio) pretende entregar ao governo e aos candidatos à Presidência um documento com análises e propostas para enfrentar a situação. As principais preocupações voltam-se para a má qualidade dos cursos e para o aparente desinteresse dos mais jovens pela área de engenharia.

Após um período de expansão contida, o Brasil tem conseguido, nos últimos anos, colher os frutos dos ajustes realizados desde a implantação do Plano Real.

O país dá sinais de que encontra, enfim, um lugar na corrente do crescimento global -mas se quiser continuar avançando, a economia terá de se mostrar cada vez mais competitiva e o Estado, mais eficiente. Para tanto, a educação precisa estar no topo da lista de prioridades.

Editorial publicado na edição de 22/06/2010 da Folha de São Paulo, A2.

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