ARTIGO: MÁQUINAS DIGITAIS por Domingo Braile

Máquinas científicas

Domingo Braile
Vivemos uma época de desafios, jamais imaginados para o avanço da ciência e sua aplicação prática em beneficio da humanidade.

O assunto pode parecer árido e desinteressante aos leitores, mas não me furtarei à obrigação de informá-los sobre esta fronteira do conhecimento, pois, como dizia Mark Twain: “Você não pode depender de seus olhos quando sua imaginação está fora de foco”. Sei que os artigos do Diário da Região são lidos por formadores de opinião e por jovens que buscam saber como será o mundo em que viverão.

As conquistas tecnológicas no século XXI caminham na velocidade da luz e a quantidade de conhecimentos é tão grande e tão difundida que, se não dispusermos de Máquinas Científicas para nos ajudar, provavelmente entraremos em uma fase em que o conhecimento, embora existente e disponível na internet, será inútil, pois nosso cérebro não conseguirá processar estes saberes. Por ser meu campo de atuação, o raciocínio e os exemplos que desenvolverei aqui ficará restrito ao campo da medicina, mas poderá ser empregado para toda e qualquer ciência.

O cientista da área da saúde está exposto a um enorme cabedal de conhecimentos à sua disposição nas bases de dados das publicações especializadas. Uma destas bases de dados, a “Pubmed”, de acesso gratuito e livre, foi desenvolvida pelo NCBI (“National Center for Biotechnology Information”), mantido pelo governo americano como parte da “National Library of Medicine, USA”.

Para terem ideia do gigantismo, esta base de dados tem mais de 20 milhões de artigos, só na área de medicina, constantes de 4 milhões de revistas de primeira linha (quem desejar ter o privilégio de adentrar este fantástico acervo de informações médicas, basta entrar no endereço eletrônico: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed)

Para fixar as ideias, vamos a um exemplo. Um estudioso de câncer ou de doenças cardiovasculares terá à sua disposição na “Pubmed” mais de 2 milhões de artigos indispensáveis para que possa exercer sua função como cientista, contribuindo com novas descobertas, ou se dedicando a ensinar seus discípulos nestes intrigantes campos. Se ele desejar mais informações, no Google, encontrará cerca de 200 milhões de páginas da web relacionadas a experimentos e ideias sobre o assunto, somando milhões de Gigabytes de dados.

Fica fácil entender que o cientista de hoje não é mais capaz de manipular manualmente esta avalanche de conhecimentos. Tem que buscar a ajuda de computadores. Estes têm se mostrado excelentes ferramentas para arquivar, manipular e analisar os dados existentes. Isto, contudo, não é suficiente. A fronteira do progresso exige agora computadores que, usando inteligência artificial, sejam capazes de analisar hipóteses e integrar o conhecimento já existente com dados experimentais dos autores, buscando relações lógicas entre causa e efeito - podendo criar uma nova hipótese, com pequena intervenção humana.

Estas poderosas armas de pesquisa que integram conhecimento, raciocínio e inteligência artificial já têm permitido grandes avanços na descoberta de novos medicamentos, novas funções dos genes e entendimento de funções da bioquímica celular.

A previsão é de que, na próxima década, novos computadores, ainda mais poderosos, poderão trabalhar com hipóteses mais complexas, beneficiando a Biomedicina, Química, Física e até as Ciências Sociais. Sejamos otimistas!

DOMINGO BRAILE é Professor Emérito da Famerp e Unicamp. Diretor da Pós-Graduação da Famerp, Editor da Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular e Membro da Academia rio-pretense de Letras e Cultura


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