Esgoto à mesa
Lusaka, 24/09/2009 – Agricultores de Zâmbia utilizam como fertilizante para seus cultivos esgoto sem tratamento, apesar de esta prática causar cólera e tifo, entre outras enfermidades. O esgoto sem tratar é um coquetel de bactérias que podem provocar doenças de risco para a vida. Funcionários da saúde pública da capital, Lusaka, e a província de Copperbelt acusam os produtores do perímetro urbano da área de fomentar epidemias ao fertilizarem seus cultivos com excrementos humanos parcialmente tratados.
Mas Irene Moonga, assistente de vendas de uma das empresas agrícolas de Lusaka, simpatiza com os agricultores porque o preço dos fertilizantes químicos subiu US$ 58 nos últimos dois anos por saca de 50 quilos. E enquanto a economia sofre com a queda dos preços do cobre, que representa 90% das exportações de Zâmbia, os consumidores dos centros urbanos recorrem cada vez mais às hortaliças como sua principal fonte de alimentos neste que é um dos países mais pobres do mundo. Um saca de folhas de colza,verdura muito apreciada pelos zambianos, custa cerca de US$ 6,50 na feira de frutas e hortaliças onde os intermediários vendem a produção adquirida em “fazendas de saneamento”.
Rosemary Mwamba, feirante do mercado da praça Kaunda, em Lusaka, diz que os vendedores não perguntam de onde procedem os artigos antes de comprá-los dos agricultores, entre eles, colza, feijão, milho verde e cana-de-açúcar. “Nos interessa mais a qualidade das hortaliças. Se as folhas estão frescas e grandes, compramos. Em todo caso, mesmo se perguntássemos não creio que isso nos ajudaria, porque se uma pessoa não diria que vende algo ruim”, acrescentou.
As autoridades sanitárias estão preocupadas. Jacob Bwalya, inspetor de saúde pública do município de Kitwe, 470 quilômetros ao norte de Lusaka, alertou para as doenças que podem ser causadas pelos dejetos humanos não tratados: disenteria, febre tifóide, giárdias, hepatite infecciosa e salmonelose. “Por esse motivo, a lei de Alimentos e Fármacos estipula como crime grave utilizar esgoto para regar hortaliças que serão vendidas ao público”, explicou Bwalya. Os produtores “furam os canos de esgoto que atravessa um terreno baldio e utilizam sua água para regar e fertilizar as verduras”, afirmou o inspetor.
O diretor-gerente da Empresa de Água e Saneamento de Lusaka, George Ndongwe, não respondeu às perguntas sobre a magnitude do problema na capital, mas um funcionário da explicou que a companhia e os agricultores “fazem o jogo do gato e do rato”. Quando “veem nosso pessoal nos locais de saneamento, se escondem na floresta e voltam após irmos embora. Para terem acesso à água, primeiro sabotam esses depósitos de assentamento do esgoto e as tubulações do saneamento”, acrescentou.
Margaret Zulu, porta-voz da empresa de Água e Saneamento de Kafubu, que opera na região do Copperbelt, admite que o vandalismo contra as tubulações e depósitos de assentamento é um grande problema. “Periodicamente unimos forças com os municípios para eliminar todos os cultivos de frutas e hortaliças que usam esgoto e retiramos os agricultores das áreas ilegais, mas sempre volta. Como o cólera é uma ameaça constante, devemos ficar sempre alertas, especialmente agora que está para começar a temporada de chuva”, afirmo.
Desde 1941, Zâmbia sofre periodicamente com o cólera, especialmente no começou ou meados da temporada chuvosa, de novembro a abril. A maioria dos casos registrados dessa doença, que com frequência superam os 10 mil ao ano, ocorre nos assentamentos irregulares de Lusaka. Cabe destacar que a epidemia registrada no ano passado não começou em Lusaka nem em Copperbelt, onde o consumo de hortaliças fertilizadas com esgoto é alto, mas com as pescarias do distrito de Mpulungu, na Província do Norte, próximo ao lago Tanganika, antes de expandir a centros mais povoados.
Os agricultores utilizam este argumento para justificar o uso de esgoto como fertilizantes, embora o cólera seja apenas uma das possíveis enfermidades. O produtor Samson Zulu, que tem uma área cultivada próxima a depósitos de saneamento na praça Kaunda, em Lusaka, não se arrepende. “O querem que façamos? Temos famílias para alimentar e este governo, e o anterior, não dão emprego a ninguém”, queixou-se.
Fonte: Por Lewis Mwanangombe, da IPS - Envolverde
Mas Irene Moonga, assistente de vendas de uma das empresas agrícolas de Lusaka, simpatiza com os agricultores porque o preço dos fertilizantes químicos subiu US$ 58 nos últimos dois anos por saca de 50 quilos. E enquanto a economia sofre com a queda dos preços do cobre, que representa 90% das exportações de Zâmbia, os consumidores dos centros urbanos recorrem cada vez mais às hortaliças como sua principal fonte de alimentos neste que é um dos países mais pobres do mundo. Um saca de folhas de colza,verdura muito apreciada pelos zambianos, custa cerca de US$ 6,50 na feira de frutas e hortaliças onde os intermediários vendem a produção adquirida em “fazendas de saneamento”.
Rosemary Mwamba, feirante do mercado da praça Kaunda, em Lusaka, diz que os vendedores não perguntam de onde procedem os artigos antes de comprá-los dos agricultores, entre eles, colza, feijão, milho verde e cana-de-açúcar. “Nos interessa mais a qualidade das hortaliças. Se as folhas estão frescas e grandes, compramos. Em todo caso, mesmo se perguntássemos não creio que isso nos ajudaria, porque se uma pessoa não diria que vende algo ruim”, acrescentou.
As autoridades sanitárias estão preocupadas. Jacob Bwalya, inspetor de saúde pública do município de Kitwe, 470 quilômetros ao norte de Lusaka, alertou para as doenças que podem ser causadas pelos dejetos humanos não tratados: disenteria, febre tifóide, giárdias, hepatite infecciosa e salmonelose. “Por esse motivo, a lei de Alimentos e Fármacos estipula como crime grave utilizar esgoto para regar hortaliças que serão vendidas ao público”, explicou Bwalya. Os produtores “furam os canos de esgoto que atravessa um terreno baldio e utilizam sua água para regar e fertilizar as verduras”, afirmou o inspetor.
O diretor-gerente da Empresa de Água e Saneamento de Lusaka, George Ndongwe, não respondeu às perguntas sobre a magnitude do problema na capital, mas um funcionário da explicou que a companhia e os agricultores “fazem o jogo do gato e do rato”. Quando “veem nosso pessoal nos locais de saneamento, se escondem na floresta e voltam após irmos embora. Para terem acesso à água, primeiro sabotam esses depósitos de assentamento do esgoto e as tubulações do saneamento”, acrescentou.
Margaret Zulu, porta-voz da empresa de Água e Saneamento de Kafubu, que opera na região do Copperbelt, admite que o vandalismo contra as tubulações e depósitos de assentamento é um grande problema. “Periodicamente unimos forças com os municípios para eliminar todos os cultivos de frutas e hortaliças que usam esgoto e retiramos os agricultores das áreas ilegais, mas sempre volta. Como o cólera é uma ameaça constante, devemos ficar sempre alertas, especialmente agora que está para começar a temporada de chuva”, afirmo.
Desde 1941, Zâmbia sofre periodicamente com o cólera, especialmente no começou ou meados da temporada chuvosa, de novembro a abril. A maioria dos casos registrados dessa doença, que com frequência superam os 10 mil ao ano, ocorre nos assentamentos irregulares de Lusaka. Cabe destacar que a epidemia registrada no ano passado não começou em Lusaka nem em Copperbelt, onde o consumo de hortaliças fertilizadas com esgoto é alto, mas com as pescarias do distrito de Mpulungu, na Província do Norte, próximo ao lago Tanganika, antes de expandir a centros mais povoados.
Os agricultores utilizam este argumento para justificar o uso de esgoto como fertilizantes, embora o cólera seja apenas uma das possíveis enfermidades. O produtor Samson Zulu, que tem uma área cultivada próxima a depósitos de saneamento na praça Kaunda, em Lusaka, não se arrepende. “O querem que façamos? Temos famílias para alimentar e este governo, e o anterior, não dão emprego a ninguém”, queixou-se.
Fonte: Por Lewis Mwanangombe, da IPS - Envolverde
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