INCRA tem visão divergente sobre assentamentos

Agronegócio - Mas o momento de maior temeridade entre os presentes foi quando o superintendente do INCRA referiu-se ao aumento da oferta de água para as propriedades, como um risco de se ampliar em até cinco vezes só a produção e de não ter onde vender

O superintendente do INCRA em São Paulo, Raimundo Pires, que esteve em Ilha Solteira na última sexta-feira (11), apresentou uma visão divergente da maioria dois presentes do encontro, que reuniu representantes da Prefeitura, Câmara Municipal, UNESP, assentamentos e da Pastoral da Terra, ligada à Igreja Católica.

Sobre a falta d’água, por exemplo, apontada como crônica por assentados, o superintendente disse que não falta água potável, mas “apenas para uso na lavoura e criação do gado leiteiro”.

Houve contestações. Vários colonos expuseram seus problemas com a falta d’água para cultivar hortas e pomares. A Prefeitura informou que ainda abastece alguns lotes com caminhão pipa. Raimundo afirmou que 90% dos assentados estão satisfeitos, felizes e que não querem voltar à vida que tinham antes. A renda média estimada atualmente nos lotes é de R$ 1 mil por mês com a venda de leite. Nas contas do INCRA esse valor esteve pela metade há três anos.

O prefeito Edson Gomes (PP) disse que a maioria dos assentados trabalha em alguma atividade na cidade, quando poderiam ampliar a produção e ficar no sítio. O superintendente Raimundo disse que há 3 anos a situação era bem pior e que atualmente só os jovens é que trabalham fora da propriedade.

Mas o momento de maior temeridade entre os presentes foi quando o superintendente do INCRA referiu-se ao aumento da oferta de água para as propriedades, como um risco de se ampliar em até cinco vezes só a produção e de não ter onde vender. “É bom vocês saberem que aqui na região, todos os assentamentos estarão aumentando a produção e, consequentemente, estarão precisando de mercado para vender suas colheitas”, disse Raimundo.

O professor João Batista, da UNESP de Ilha Solteira, acredita que a colocação do superintendente soou como um desestímulo à produção.

O superintende sugeriu que a UNESP elabore um projeto para levar água a todos os lotes nos dois assentamentos. No entanto, não deixou claro como seria a participação do INCRA nessa proposta. Raimundo Pires também exigiu que o projeto da água venha acompanhado com uma estimativa de produção e indicação de comercialização dos produtos.

A irmã Gilce, da Pastoral da Terra, disse que a narrativa do Superintendente do INCRA, sobre uma vida feliz, sem pobreza e sem ameaça de êxodo rural nos assentamentos, “não retrata a verdade, pois eu mesmo estou sempre no campo e não concordo com muita coisa que ele disse”.


A Voz do Povo, Ilha Solteira, Ano VIII, nº 707, p. 5

Comentários

  1. Lamentável este posicionamento do Incra e estou totalmente de acordo com a opinião do Professor João Batista. Precisamos estimular a produção, é isso que fazemos o dia todo com os demais produtores. É a única via realista de se ter uma verdadeira inserção sócio-econômica do produtor é a produtividade, a produção, que resulta na renda. Não acredito que a renda média dos assentados aqui de Ilha Solteira chegue a R$ 1.000,00 por mês, acho que nem com a renda do Bolsa Família chegaria a isso. Uma volta pela assentamento e verá que falta elementos para se fazer renda. Tem-se a terra e não se tem a produção. TODOS os meios para fazer com a produção no assentamento deve ser disponibilizado, muita extensão rural é necessária.

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