Cúpula acaba sem metas de corte de CO2

EUA, China, Brasil, Índia e África do Sul fecham um acordo tímido, que ainda teria de ser aprovado por demais países.

Considerado o principal encontro sobre clima deste século, COP-15 termina, depois de 12 dias, com uma mera declaração política

Casper Christoffersen/France Presse

Ativistas usando máscaras de líderes mundiais protestam contra o pouco progresso da cúpula; cartazes dizem "vergonha climática"

por CLAUDIO ANGELO
LUCIANA COELHO
MARTA SALOMON

Depois de dois anos de negociações, chefes de Estado reunidos em Copenhague deixaram a conferência do clima ontem sem uma decisão sobre metas de redução de emissões para os países desenvolvidos. A COP-15, considerada a reunião internacional mais importante deste século, naufragou numa pífia declaração política, e uma nova reunião foi convocada para o meio do ano que vem.

Após uma série de reuniões que começaram na quarta-feira, adentraram a madrugada ontem e duraram o dia todo, os líderes foram incapazes de resolver a maioria dos impasses no caminho do acordo contra o aquecimento global.

O que era para ser uma apoteose, com a presença de 119 premiês e presidentes -inclusive o homem mais poderoso do mundo, Barack Obama-, terminou em vergonha.

Esta já se insinuava desde a tarde de ontem, quando a "foto de família" dos presidentes que coroaria a salvação do planeta fora cancelada. Consolidou-se à noite, quando os líderes saíram do Bella Center, o centro de convenções de Copenhague, sem dar declarações.

"Estou decepcionado, muito decepcionado", declarou o embaixador extraordinário do Brasil para o clima, Sérgio Serra. Ele assumiu a chefia do grupo negociador brasileiro ontem, depois que o negociador-chefe, Luiz Alberto Figueiredo Machado, voltou ao Brasil antes mesmo do fim da COP-15.

Até o fechamento desta edição, a conferência de Copenhague ainda não havia terminado. Um rascunho do acordo político foi submetido a um grupo de negociadores de 30 países, que o transformaria numa decisão da COP -o resultado oficial da cúpula. Mesmo nessa reunião já havia resistências ao documento na noite de ontem, por parte do G77 (bloco dos países em desenvolvimento).

"Não será o resultado que todos esperamos", disse Serra. "Muita coisa deverá ser deixada para a reunião ou série de reuniões no ano que vem." A ausência mais marcante é justamente das metas de redução de emissões de gases de efeito estufa -o objetivo principal de um acordo que, afinal, deveria proteger o clima.

O chamado "Acordo de Copenhague" não trará menção a uma meta global de corte de CO2 de pelo menos 50% até 2050, nem trará explícitas as metas dos países ricos e os compromissos dos emergentes e dos Estados Unidos.

O objetivo de segurar o aquecimento global em no máximo 2C, porém, está mantido. Um acordo legalmente vinculante, que era a maior esperança para a cúpula, também está fora do horizonte. "Será muito difícil e levará algum tempo", disse Obama.

Os EUA passaram todas as duas semanas da conferência trocando acusações com os chineses. Os dois maiores poluidores do mundo faziam questão de dizer que estavam plenamente engajados na luta contra o aquecimento global, mas que o outro não estava fazendo o bastante.

Obama qualificou as diferenças como um "impasse fundamental em perspectivas". O principal ponto de conflito entre as duas potências, porém, foi resolvido, e graças à mediação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a questão da verificação dos compromissos de corte dos emergentes.
Os EUA brigavam para que qualquer compromisso adotado pelos emergentes, tendo ou não verba de países ricos, fossem sujeitos a auditoria externa. Estes insistiam em que isso era violação de soberania -especialmente a China, que teme intromissão americana em outras questões domésticas.

Numa reunião convocada por Wen dos países do chamado Basic (Brasil, África do Sul, Índia e China), à qual Obama se juntou mais tarde, a solução apareceu: haverá verificação, mas esta "não será intrusiva", nas palavras de Serra. Ficou decidido que um grupo internacional será encarregado da verificação. Lula intermediou o conflito entre os gigantes.

Diante do fiasco de Copenhague, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, convocou uma nova reunião para Bonn, na Alemanha, em junho. A próxima COP está marcada para dezembro de 2010 no México.


Folha de São Paulo, 19 de dezembro de 2009, p. A18

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