Opinião: Ministro Marco Aurélio fala sobre perda de parâmetros e afastamento da impunidade

No "O Estado de S.Paulo" deste sábado (13/2), o Ministro Marco Aurélio Mello, que manteve a prisão preventiva do Governador afastado do Distrito Federal, José Roberto Arruda, em entrevista a Fausto Macedo, disse que "O País atravessa uma quadra de abandono a princípios, perda de parâmetros, inversão de valores, de dar o dito pelo não dito, o certo pelo errado e vice-versa. Mas há o outro lado. A balança da vida tem dois pratos. Há o prato que sopesa coisas boas, o horizonte, o amanhã em busca de lisura quanto à coisa pública e, portanto, o afastamento da impunidade para que todos estejam atentos e observem as regras estabelecidas. A sociedade não tolera mais é o escamoteamento, a mesmice. A sociedade cobra uma prestação de contas".

Na Folha de São Paulo de 15 de fevereiro de 2010 (página A12), o Ministro Marco Aurélio Mello diz que "A impunidade leva à irresponsabilidade, ao menosprezo pelo que está estabelecido, às regras tão caras à vida em sociedade. Toda vez que alguém é surpreendido num desvio de conduta, esse fato serve de exemplo e serve de alerta aos demais cidadãos, para que busquem a postura que se aguarda do homem médio, para que mantenham os freios inibitórios rígidos. Nós estamos numa quadra alvissareira. De um lado, temos o abandono de princípios, a perda de parâmetros, a inversão de valores, o dito passa pelo não dito, o certo pelo errado e vice-versa. De outro, as mazelas não são mais passíveis de serem escamoteadas. Elas afloram e aí as instituições pátrias funcionam, a polícia, o Ministério Público e o Judiciário. Isso sinaliza dias melhores para o Brasil em termos de apego às regras".

Será que a manutenção de Arruda no Xilindró vai servir de exemplo e outros políticos farão companhia a ele?

Na Folha de São Paulo de quinta-feira (dia 11 de fevereiro), o Articulista HÉLIO SCHWARTSMAN escreve o Artigo/Análise "Existe uma lógica por trás da mentira", que vale uma leitura. É só conferir!

EXISTE UMA LÓGICA POR TRÁS DA MENTIRA

Por excêntrico que pareça, há uma lógica por trás dos panetones de Arruda. Na verdade, existem até duas lógicas.

Na mais terrena delas, a da estratégia de defesa, costuma ser vantajoso para o acusado alegar qualquer coisa que não o incrimine, por mais mirabolante que pareça. Cabe à acusação demonstrar que a história é falsa. Se não conseguir, prevalece a presunção da inocência.

Essa hierarquia talvez não seja a melhor para efeitos de combate ao crime, mas é crucial para o Estado de Direito.
A segunda lógica é mais sutil. Ela está entranhada na natureza humana: somos todos mentirosos patológicos.

Crianças começam a mentir por volta dos três anos, idade em que ainda não conseguem proceder a cálculos sofisticados como "o que eu devo fazer para escapar à punição". De acordo com Laurence Tancredi, em "Hardwired Behavior: What Neuroscience Reveals about Morality", crianças mentem por diversos motivos, como evitar castigos, ou simplesmente porque enganar é divertido.

Tancredi elenca trabalhos dos EUA que mostram que 60% das pessoas mentem regularmente, numa média de 25 vezes diárias. A maioria das inverdades tende a ser inocente, como elogiar a comida mesmo quando intragável. É uma mentira socialmente necessária.

Como somos bons em mentir, somos também bons em detectar mentiras dos outros. Sai-se melhor o sujeito que acredita nas próprias lorotas, daí o surgimento do autoengano, tão importante na psicanálise.

A questão que fica é: como conciliar isso tudo? Quem esboça uma resposta é Steven Pinker em "How the Mind Works". Para ele, nossos cérebros são multipartidos: se uma parte de nós se deixa enganar, há outra que sabe a verdade.

Assim, o propósito das desculpas de políticos pegos com a boca na botija talvez não seja apenas enganar eleitores e juízes. Uma parte de seus cérebros sabe que tudo não passa de história para boi dormir. A questão é: o que se dá com a outra parte? Pinker responde: "O autoengano é a mais cruel das motivações, pois nos faz sentir bem quando estamos errados e nos encoraja a lutar quando deveríamos nos render".

Por HÉLIO SCHWARTSMAN, na Folha de São Paulo, 11/02/2010, p.A.4.

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