Estudos questiona lista oficial de peixes em risco

A lista oficial de espécies amea­çadas no Brasil elenca 133 peixes sob risco de sumir no país, mas o número verdadeiro pode ser até seis vezes maior, revela um novo levantamento. O estudo, publicado recentemente na revista científica de acesso livre PLoS One, mostra como a biodiversidade dos rios do país anda mal das pernas. Embora o Brasil abrigue a maior variedade de peixes de água doce do planeta, com quase 2.600 espécies registradas em 2007, 819 delas são classificadas na pesquisa como potencialmente ameaçadas.

A lista de espécies levantada pela pesquisa abrange, em geral, bichos de pequeno porte, não muito conhecidos do público, mas nem por isso menos importantes. Segundo o estudo, no ecossistema dos rios, essas espécies ocupam uma posição intermediária entre os insetos e as grandes espécies de peixes migratórios. São animais como piabas, cascudos e coridoras, esses últimos importantes economicamente por serem apreciados pelos aquaristas.

Bacia está em estado crítico

O grupo de pesquisadores fez o mapeamento das microbacias afetadas pela destruição do ambiente original no seu entorno. Entram nessa categoria bacias com 70% ou mais da área desmatada e com menos de 30% de sua extensão correspondente a áreas protegidas por lei.

A partir desse critério, os pesquisadores puderam classificar as áreas que estão em estado crítico. Resultado: 40% das microbacias brasileiras, nas quais vivem 344 espécies de peixes que só existem nelas, estão nessa situação.

O quadro é especialmente feio nas bacias do Paraná (78% em estado crítico), Uruguai (67%) e nas várias pequenas bacias do Atlântico (mais de 40%). Nas microbacias perto da costa, a pequena dimensão das redes de rios ajuda a explicar as ameaças aos peixes, já que eles naturalmente têm distribuição mais restrita. Essas áreas têm densa ocupação humana e muitas hidrelétricas, como Itaipu.

“É importante lembrar que esse número se refere apenas às espécies com distribuição geográfica restrita”, disse o ictiólogo (especialista em peixes) Paulo Buckup, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Há também as espécies migratórias, de grande porte, as quais, em muitos casos, também sofrem ameaças sérias.”

Buckup e seus colegas da ONG Conservação Internacional, do Museu de Zoologia da USP e de outras instituições tomaram como base, na análise feita, 540 microbacias hidrográficas, pertencentes às grandes redes de rios do país. Nessas pequenas bacias, eles mapearam as espécies que só ocorrem em tais regiões delimitadas, cujos registros feitos por cientistas são relativamente escassos.

Segundo critérios internacionais, esse fato já é suficiente para considerá-las vulneráveis ao sumiço permanente. Com esse método, os cientístas chegaram ao número de 819 espécies.

Fonte: Folha de São Paulo, sábado, 10 de julho de 2010, A14

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