ANÁLISE: Em ano ruim, agronegócio pode salvar contas externas do país

Em ano ruim, agronegócio pode salvar contas externas do país

Por MARCOS FAVA NEVES

Quero compartilhar com o leitor da Folha um incômodo. Por interesses distintos e por falta de conhecimento, insiste-se em contrapor no Brasil três coisas que não são contrapostas e que atrapalham nosso planejamento e nosso desenvolvimento.

A primeira é "agricultura contra ambiente" ou "ruralistas contra ambientalistas". O agricultor tem de ser ambientalista.

A segunda é "agricultura familiar contra agricultura empresarial". Passa a impressão de que, se é familiar, não pode ser empresarial. Se é assentado, o agricultor não pode ser competitivo. No Brasil, existe uma só agricultura, a líder mundial. Somos também um caso raro de país que tem dois ministérios para o mesmo assunto.

A terceira é a ignorância em relação ao conceito de agronegócio. Somos obrigados a ver propaganda eleitoral dizendo que "somos contra o agronegócio, contra a opressão, contra a violência..." e contra tudo o que gera renda - provavelmente a favor apenas da perpetuação da miséria.

É importante que essas lideranças que criticam o agronegócio entendam que esse conceito foi criado em 1957 nos Estados Unidos (apenas em 1990 no Brasil) para dar o caráter de integração à agricultura.

Agricultura integrada com o comércio, com a indústria, com os serviços, com a pesquisa, com os insumos e com os produtores.

Na definição, não existe a palavra "tamanho". É preciso entender que agronegócio não significa algo grande, e sim algo "integrado". Há dez anos festejávamos quando uma cadeia produtiva passava do US$ 1 bilhão em exportação. Éramos o gigante adormecido. Neste ano, que será desastroso para as contas externas, o país pode ser salvo pelo agronegócio. A cana trará US$ 12 bilhões, a laranja, US$ 2 bilhões, a carne bovina, US$ 5 bilhões, o café, US$ 5 bilhões.

E ainda temos o frango, o papel e a celulose, as frutas, o fumo, os couros, o milho, os lácteos e muitos outros.

É provável que entrem mais de US$ 70 bilhões em 2010. E, nos próximos dez anos, o agronegócio trará mais, devido ao consumo mundial de alimentos e graças à distribuição da renda.

O agronegócio brasileiro vem conquistando respeito internacional. Todos querem saber mais para entender o que fizemos e nossa capacidade de suprir o mundo de alimento e energia renovável de maneira sustentável.

Exemplo é a reportagem feita pela revista "The Economist" em 26 de agosto, que diz que "o mundo está enfrentando uma crise na produção de alimentos e deveria aprender com o Brasil".

O agronegócio gera renda para ser distribuída no Brasil. É um setor que merece respeito e admiração.

MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento na FEA/USP (Campus de Ribeirão Preto) e coordenador científico do Markestrat. Internet: www.favaneves.org


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