Artigos: Daqui a 90 anos

E a Folha fez 90 anos e para comemorar convidou personalidades para prever o desenvolvimento de suas áreas pelas próximas nove décadas, idade que o jornal completou no sábado. Conheça alguns artigos.

A EMPRESA SERÁ UM REFLEXO DA SOCIEDADE

Por JORGE GERDAU JOHANNPETER


Pensar sobre o ambiente empresarial daqui a 90 anos é um difícil exercício que está diretamente relacionado à evolução da sociedade.

Será ela, a partir do cenário econômico, social e ambiental atual, que influenciará nosso código de valores e, consequentemente, estabelecerá como empresas vão guiar suas decisões.

Frente a esse contexto, cabe questionar: qual sociedade gostaríamos de ter daqui a 90 anos? Que mudanças realizar para termos empresas eficientes e sustentáveis?

O ponto-chave para conseguirmos construir um futuro melhor está centrado nos valores que queremos seguir, que guiarão o comportamento da nossa população. A democracia, uma realidade já conquistada no Brasil, deverá ser aperfeiçoada, ampliando a capacidade de ouvir, cada vez mais, o povo.

Democracia deve ser pensada de forma ampla, como uma estrutura que oferece condições e oportunidades iguais para todos, seja na área de educação, seja na de saúde ou na de segurança.

Também é fundamental aprimorar as nossas instituições, em suas regras e estruturas, assim como o conceito de transparência, para que os atuais níveis de corrupção se tornem insustentáveis.

Sem dúvida, são muitos os desafios. No campo econômico, há a necessidade de refletir sobre as alternativas de atendimento a uma população cada vez mais longeva.

Há ainda a expansão do comércio internacional, cuja discussão passa também por questões ambientais, como os limites de emissão de CO2 de cada país, sem falar na necessária gestão de recursos naturais não renováveis.

Provavelmente daqui a 90 anos, os desafios do Brasil serão ainda maiores. A imensa força de trabalho e a versatilidade de adaptação das pessoas aos cenários econômicos, sempre com criatividade, fazem do brasileiro um indivíduo diferenciado.

A inserção definitiva no cenário internacional, entretanto, passa por rever os enormes custos que hoje dificultam o investimento produtivo. Precisamos ter uma estrutura trabalhista, fiscal e tributária que nos dê isonomia competitiva frente a outras nações.

Os próximos 90 anos que se constroem a partir de hoje devem ser marcados pela humildade e inteligência, capazes de utilizar todo o conhecimento já existente em nossa sociedade. Para organizar isso, é essencial desenvolver uma competência gerencial política, crucial para construirmos o futuro que realmente queremos.

JORGE GERDAU JOHANNPETER é empresário e presidente do conselho de administração da Gerdau.


A ÉTICA DEVERÁ GUIAR AS MUDANÇAS

Por AÉCIO NEVES

A espetacular velocidade de transformações do mundo no último século torna qualquer projeção sobre o futuro tarefa quase inimaginável.

Do ponto de vista do Brasil, o salto foi formidável.

Passamos de um vasto país agropastoril, com baixa densidade demográfica, educação restrita à elite, profundo atraso tecnológico e grave dependência econômica para uma economia diversificada; rede de cidades considerável; sistemas de serviços públicos abrangentes; produção intelectual e cultural vigorosa, reconhecida, e uma crescente integração ao mundo globalizado.

As reformas estruturais realizadas nos anos 90 nos permitiram dar passos decisivos para alcançarmos a posição que ocupamos hoje.

Não há como vislumbrar um cenário pessimista para um país sem distensões, com extenso volume de terras agricultáveis, poderosas reservas naturais e potenciais latentes, especialmente no do nosso capital humano.

Mas ainda nos falta, para realizá-los, um inédito e vigoroso senso ético. Não apenas aquele restrito às nossas obrigações de contenção da corrupção e do compadrio.

Mas um senso ético mais amplo que torne generosa e solidária a construção do desenvolvimento nacional.

Se, no século 20, a nossa população e o PIB foram multiplicados, pouco ou quase nada fizemos para alterar nossa profunda e dramática desigualdade social.

Nenhuma outra tarefa será capaz de mobilizar tanto o Brasil dos próximos 90 anos.

Para superar esse fosso, precisamos compreender a construção do futuro não como uma dádiva, mas como conquista coletiva.

Poderemos ser o país dos talentos, se o nosso senso ético nos permitir democratizar a educação de qualidade.

Seremos o grande provedor de alimentos do mundo e representaremos um novo modelo de produção de energia renovável, se a ética nos ensinar a compatibilizar essas vocações à ideia da sustentabilidade.

Seremos uma das mais promissoras sociedades, se a ética nos exigir crescer sem regiões isoladas.
As razões que nos impuseram tantas décadas perdidas são muitas. Todas, no entanto, passam pela discussão ética sobre o nosso próprio destino e projeto de país.

Precisamos responder que Brasil queremos ser e como construí-lo com o trabalho, as crenças e as esperanças de todos os brasileiros.

AÉCIO NEVES é senador eleito pelo PSDB em Minas Gerais, Estado que governou de 2003 a março de 2010; foi também deputado federal por quatro mandatos.


O BRASIL IRÁ PROSPERAR PARA ALÉM DO SÉCULO 22

Por EIKE BATISTA

Abro o jornal de 1º de janeiro de 2101, e as manchetes renovam o projeto de empreender no país.

O Brasil é uma das três maiores economias do mundo, o crescimento econômico de 5% ao ano tem sido constante, a poupança interna formada permite expressivos investimentos anuais, a inflação prossegue sob controle e a renda estimula o consumo doméstico.

Nossas exportações avançam apoiadas em matérias básicas e produtos com valor agregado. O crescimento é sustentável.

Esse é o balanço que encontro no jornal dentro de nove décadas. Ele trará os melhores momentos de 2100, personagens de destaque, os avanços do país na economia, esportes, cultura, sustentabilidade.

O Brasil hoje é ainda mais rico, justo. Enxergo mais cem anos de crescimento, décadas de coragem, realizações, produtividade e consumo consciente.

O Brasil mudou nas últimas nove décadas. A primeira década do século 21 marcou o descolamento do nosso país das crises econômicas cíclicas da época.

Desde então um grupo de países em desenvolvimento vem se destacando, praticamente ao largo da crise mundial. Éramos o Brasil, a Índia, a China e a Rússia, os chamados Brics, ampliando peso na economia global.

Nos anos 2010, costumava-se dizer que éramos um grupo econômico "antipuxadinho". Que era necessário fazer bem feito para crescer.

E assim trabalhamos essas décadas. As últimas nove foram de intensa expansão.

O Estado cada vez mais ocupa o seu papel de estabelecer as bases macroeconômicas para o desenvolvimento do país. A iniciativa privada honra seu papel de empreender de forma responsável, sustentável e solidária.

Conquistas sociais se consolidaram ainda mais e o Brasil está repleto de oportunidades para quem trabalha sério e em favor de uma nova ordem mundial.

Essa é parte da visão que tenho hoje para o Brasil de 2100. É isso que enxergo quando olho para esse futuro, conforme o convite que me foi feito por este jornal.

Tenho hoje 54 anos. Dentro de 90 anos, minha idade seria 144! Como outros tantos brasileiros, não estaremos mais aqui no próximo século! Mas este Brasil que visiono, forte, justo, produtivo e sustentável, estará. E irá prosperar, ainda mais, para além do século 22.

E enquanto isso, neste momento, no presente, mãos à obra e muito trabalho firme, dedicação, disciplina e empenho, hoje!

EIKE BATISTA , empresário, é dono do Grupo EBX.



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