BOAS MATÉRIAS NA FSP: EDUCAÇÃO, "SUOR" DA CANA e CITROS

Vale quanto ensina - Em países onde a educação vai bem, professor é uma profissão valorizada e os salários iniciais equivalem ao de carreiras como a de engenheiro

"Nos países onde os alunos têm os melhores resultados nos testes padronizados internacionais [como o Pisa], a remuneração dos professores se encontra no nível dos salários de engenheiros e médicos", afirma o pesquisador americano Philip Fletcher, membro do Conselho Consultivo da Avalia Educacional, do grupo Santillana.

Cingapura, por exemplo, ocupa a segunda posição no ranking de matemática do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), prova que envolve 65 países.

Em ciência, o país está na quarta colocação e em leitura, na quinta. O Brasil fica em 57º em matemática, em 53º em ciência e em 53º em leitura, no Pisa 2009.

Um dos pilares do sucesso educacional do país é o investimento em seus professores, que começam a ensinar pelo mesmo salário de um engenheiro contratado pelo governo -cerca de US$ 2.500 por mês. "Além de transmitir conhecimentos, os professores devem ajudar os estudantes a descobrir seus talentos", diz o professor Lee Sing Kong, diretor do NIE (Instituto Nacional de Educação, em inglês), órgão ligado ao Ministério da Educação.

Kong falou com a Folha antes e durante sua estadia em São Paulo, onde participou, na semana passada, de um seminário internacional para contar como a valorização da profissão docente gera resultados positivos na educação.

O NIE forma cerca de 2.000 docentes ao ano: dois terços deles já têm diploma superior e fazem pós-graduação de um ano em educação; os demais cursam bacharelados de quatro anos. Enquanto estudam, os professores recebem salário. A formação é obrigatória para os profissionais da rede pública.

MODELOS DE SUCESSO
Mas a valorização do papel do professor é preocupação globalizada e foi tema da primeira Cúpula Internacional da Profissão Docente, realizada nos EUA em março, que reuniu representantes de 16 países, como Brasil, Finlândia, Cingapura e China. "Na Finlândia, a seleção dos profissionais não se baseia apenas na sua competência cognitiva, mas dá igual importância a seu potencial de liderança, seus valores éticos, sua disposição para ensinar, sua habilidade de comunicar e de se relacionar bem", afirma Fletcher, que já foi consultor do MEC.

Além disso, em países onde a educação vai bem, "os professores têm ampla autonomia no desempenho de suas atividades didáticas para alcançar alunos com diversos estilos de aprendizagem". Para ele, tal autonomia reafirma aos professores seu profissionalismo, "o que sustenta sua estima e respeito na comunidade".

Para José Francisco Soares, da UFMG, nem todas as fórmulas podem ser aplicadas de modo imediato no Brasil, cuja carreira docente é a priori desprestigiada. "A forma como a sociedade trata o professor é como coitadinho. Temos de dar a ele a chance de ser profissional."



"Suor" da cana ajuda a resfriar o clima, diz pesquisa - Estudo diz que canaviais transpiram muita água e refletem bem a luz do sol, reduzindo temperatura local - Benefícios, porém, não substituem a existência de mata nativa; ganho é em comparação a pasto e a plantações de soja


A produção de etanol e outros biocombustíveis já não é a única forma de usar a cana-de-açúcar para combater o aquecimento.

Cientistas dos Estados Unidos acabam de descobrir uma espécie de "efeito colateral" dessas plantações que ajudaria a resfriar a região onde as culturas se localizam.

Isso aconteceria pela ação conjunta de dois fatores.

Os canaviais conseguem refletir com sucesso uma boa parcela da luz solar, o que já ajuda a não acumular calor.

Esse efeito é potencializado por uma espécie de "suor" da planta, que transpira alta quantidade de água retirada do solo de volta ao ambiente, resfriando o ar.

FLORESTA
Tudo isso não significa, porém, que se deva sair por aí derrubando árvores e florestas e colocando um monte de cana-de-açúcar no lugar.

Os autores da pesquisa, publicada na última edição da revista "Nature Climate Change", alertam que a cana não substitui a boa e velha mata nativa.

Os resultados são benéficos quando comparados a regiões já desmatadas, especialmente para formação de pasto e plantação de soja. "Em ambientes onde a segurança alimentar não esteja ameaçada, a conversão de lavouras e pastos em canaviais leva a um significativo esfriamento local, enquanto a substituição da vegetação nativa pela plantação de cana provoca um aquecimento local", diz o trabalho, chefiado por Scott Loarie, da Universidade de Stanford.

BRASIL
Embora não haja nenhum brasileiro no grupo, o trabalho foi feito com análise de dados colhidos no cerrado do país - que é a maior área de savana da América do Sul.

Os cientistas avaliaram centenas de imagens de satélite de quase 2 milhões de quilômetros quadrados - o suficiente para mapear todo o centro-oeste.

Eles também compararam dados como temperatura, taxa de evaporação e de reflexão da luz solar.

Em média, o desmatamento para criação de gado e plantação de soja aumentou em 1,55ºC a temperatura normal do entorno. Quando essas culturas foram substituídas pela cana, a temperatura voltou a cair em média 0,93ºC.

Para o professor da USP de Piracicaba Edgar Beauclair, da área de planejamento da produção e cultivo da cana-de-açúcar, a pesquisa dos americanos demonstra que, quando bem planejada, essa cultura pode ser benéfica para o ambiente. "Se bem conduzida, a produção de cana pode ser bastante sustentável. Ela pode ser uma boa solução para a manutenção da necessidade de produção de energia em harmonia com o ambiente. Nós temos tecnologia para isso", afirmou.
Segundo Beauclair, no entanto, é preciso maior investimento em pesquisa no Brasil, que é hoje o maior produtor de cana-de-açúcar em todo o mundo.

"O fato de não ter nenhum brasileiro envolvido nesse trabalho já evidencia como está difícil conseguir financiamento para estudos na área de cana-de-açúcar e bioenergia. Para avançarmos, isso tem que mudar", disse.




CITRICULTURA PAULISTA BUSCA TECNOLOGIAS PARA ELEVAR GANHOS

Por MAURICIO MENDES

Na semana que passou, o Instituto Agronômico de Campinas organizou o 1º Simpósio Internacional de Irrigação e Fertirrigação na Citricultura.

O evento reuniu boa parte dos maiores especialistas do mundo no assunto, que traçaram um panorama das principais tecnologias que vêm sendo usadas pelo setor.

O tom das apresentações deixou clara a crescente tendência da busca pelas tecnologias que levem à produtividade máxima na produção de laranjas.

A principal vitrine dessas tecnologias é justamente a citricultura paulista, responsável por 78% da produção brasileira de laranjas em 2010. No ano passado, a atividade alcançou produtividade média de 24 toneladas de laranjas por hectare, com crescimento de 21% ante a média de 20 toneladas, há 15 anos.

Dentre as inovações tecnológicas responsáveis por tal evolução, destaca-se a difusão de tecnologia adaptada. A categoria abrange desde o aprimoramento de variedades adaptadas às diferentes regiões, passando por melhorias na tecnologia de produção de mudas e, por fim, culminando no aumento da área irrigada.

Estima-se que cerca de 18% da citricultura paulista esteja sendo irrigada. Há pouco mais de uma década, o índice não passava de 4%.

A cultura cítrica responde muito bem à adoção da irrigação.

O sucesso dessa técnica é muito maior na parte norte do cinturão citrícola - noroeste e norte de São Paulo e Triângulo Mineiro -, onde o clima é tipicamente mais quente e seco.

Nessas localidades, a aplicação de água suplementar pode trazer incrementos superiores a 20% em relação aos verificados em áreas de sequeiro.

Já em regiões mais ao sul de São Paulo, onde a distribuição de chuvas é mais equilibrada ao longo do ano, a eficácia da irrigação é menor.

Outra tecnologia que deve ter importância crescente na citricultura paulista é a agricultura de precisão, técnica que permite identificar necessidades nutricionais específicas em diferentes áreas da propriedade.

Inicialmente voltada para culturas anuais, como soja, milho e algodão, a agricultura de precisão vem ganhando espaço em culturas permanentes, como café e citrus.

Entre as principais vantagens perante o tradicional sistema de amostragem de solo, destaca-se a possibilidade de correção cirúrgica das deficiências minerais encontradas nas plantas, podendo assim ajustar a nutrição das plantas com ganhos de produtividade e racionalização de custos.

A eficácia de todas essas ferramentas também deve ser analisada do ponto de vista ambiental. Nesse caso, o estudo da irrigação, que utiliza um bem tão nobre como a água, deve ser feito de maneira cautelosa.

O ponto positivo é que o Brasil dispõe de normas legais para implementar o uso racional dos recursos hídricos, como as outorgas fornecidas pelos órgãos ambientais estaduais e federais para fazer uso desse insumo natural.

A agricultura de precisão vai na direção da sustentabilidade, já que preconiza a otimização e a racionalização do uso dos insumos, sejam fertilizantes ou defensivos agrícolas.

No momento em que a citricultura vê seus custos aumentados para garantir o controle de pragas e doenças, o produtor deve buscar manter-se rentável.

Atenção a tecnologias que promovam o aumento de produtividade e a otimização de custos são primordiais para conseguir esse intento.

* MAURICIO MENDES é CEO da InformaEconomics FNP, consultor do Grupo de Consultores em Citros e presidente da ABMR&A.

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