COMO SALVAR A LAVOURA?

O agricultor Edmar Dourado, que produz 50 toneladas de banana por hectare: se a barragem não se recuperar, será uma tristeza total

Anualmente, Mirorós produz 54 mil toneladas de frutas, o que movimenta R$ 40 milhões e gera 6 mil empregos. Um lote de cinco hectares na região está avaliado em R$ 100 mil. 'A maioria dos irrigantes já construiu sua casa, tem carro ou moto, possui um bom padrão de vida. E, de uma hora pra outra, podem ficar sem tudo isso', adverte Paulo Henrique Santos de Araújo, gerente executivo do Distrito de Irrigação do Perímetro Irrigado de Mirorós (Dipim), órgão que administra a área de cultivo.

A incerteza quanto à água acabou inibindo investimentos no perímetro. 'Temos 520 hectares prontos para serem irrigados, mas que não estão recebendo água. Há vários agricultores que estariam automatizando sistemas de irrigação e desistiram. Os tratos culturais já foram diminuídos. Estamos estudando a viabilidade da construção de poços, mas a angústia é geral', afirma Araújo.
Segundo Paulo Araújo, gerente do Dipim, a incerteza quanto à água já inibe investimentos. À direita, canal que alimenta os sistemas de irrigação em Mirorós

O que será do futuro ainda é uma incógnita para Edmar Dourado. Nascido em Irecê, aventurou-se da contabilidade ao comércio, até se render à lida com a terra. De início, foi para Mirorós investir em banana, mas logo apostou em goiaba, mamão, manga e pinha, em 40 hectares. A produção é encaminhada para cidades do Nordeste, especialmente Salvador, Recife e Aracaju.

Hoje, Dourado colhe por ano 50 toneladas de banana por hectare - média alta, em comparação com os demais polos de produção da fruta no país. Em clima de expectativa, o produtor não tem nenhum plano engatilhado. 'Viemos com a intenção de morar e produzir em Mirorós. Tenho amor por esse lugar. Se a barragem não se recuperar, será uma tristeza total', lamenta o agricultor.

Muito além da água

A questão das chuvas no semiárido é complexa. As precipitações costumam ocorrer de forma localizada e, este ano, há ainda a influência do El Niño, fenômeno que interfere na subida das frentes frias do Sul, ocasionando menos chuvas no Nordeste. 'Além disso, a média de evapotranspiração é superior a 2 mil milímetros por ano, numa região onde chove 800 milímetros por ano, em média. É como se tivéssemos uma chuva maior de baixo para cima, do solo em direção ao céu', afirma João Suassuna, engenheiro agrônomo e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, em Pernambuco.
Goiaba, pinha e banana, frutos do sertão irrigação. Mas o semiárido pode oferecer mais possibilidades, da agricultura à pecuária

Por esses motivos, segundo Suassuna, é preciso mudar o conceito da necessidade de se combater a seca. 'Enquanto fenômeno natural, existirá sempre. O que precisamos é traçar mecanismos para conviver com ela', diz. Neste sentido, ele defende que é fundamental entender melhor a caatinga, para obter os seus benefícios. 'É uma vegetação riquíssima. Podemos investir mais no extrativismo correto de plantas que produzem óleos, ceras, frutas e fibras', sugere.

A pecuária é também outra opção importante, mas ainda não explorada em toda a sua potencialidade no semiárido. 'Já existem experiências no Nordeste que comprovam a viabilidade da criação de raças de bovinos, como guzerá e sindi. Há ainda raças de cabras e ovelhas adaptadas à região. E, como complemento, pode-se plantar plantas resistentes à seca, como capim buffel e capim urocloa, para alimentar esses animais', completa.

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