ENTREVISTA GUSTAVO GROBOCOPATEL, "Rei da soja" faz fortuna com terra arrendada


MAIOR PRODUTOR ARGENTINO, PRESENTE EM 8 ESTADOS NO BRASIL, FALA DE GESTÃO AGRÍCOLA - Empresário e Egenheiro Agrônomo argentino Gustavo Grobocopatel 

Conhecido como "o rei da soja", o argentino descendente de ucranianos Gustavo Grobocopatel, 49, comanda uma empresa que fatura US$ 900 milhões ao ano exportando grãos.

Presente na Argentina, no Brasil, no Uruguai e no Paraguai (com 3 milhões de toneladas de grãos por ano), o grupo Los Grobo foi criado há 28 anos por Gustavo e seu pai. Os primeiros passos do grupo foram em Carlos Casares (província de Buenos Aires), e a internacionalização começou nos anos 2000, após a crise argentina de 2001. 

Grobocopatel desenvolveu um modelo de negócio em que produz arrendando terras, sem ter um único hectare próprio. Com investimentos em oito Estados brasileiros, ele afirma que fazer negócio com o Brasil não é fácil, por conta das diferenças de impostos e de leis entre os Estados.

Sobre uma possível desaceleração da China, não é catastrofista. Pensa que é bom que o país asiático cresça menos, porque ficaria difícil atender a demanda daqui para frente. Homem grande e de fala tranquila, dedica-se em suas horas livres à fotografia e à música folclórica argentina. "Adoro cantar", afirma.

Folha - Seu modelo de negócio tem uma particularidade, o sr. produz soja sem ter terra. Como isso funciona?
Gustavo Grobocopatel - É um modelo em que o importante é a gestão do conhecimento. Não importa tanto o proprietário dos fatores de produção, que no campo são terra, trabalho e capital. Podemos fazer agricultura sem ter força de trabalho própria, porque a terceirizamos. A chave desse modelo é a capacidade de gestão. A ideia de que para ser produtor não é necessário ser proprietário da terra rompe um paradigma antigo de que os produtores são filhos de fazendeiros. Agora um produtor pode ser um bom aluno de agronomia. É um processo de democratização de acesso à produção da terra. 

Sua empresa não tem um hectare de terra?
Não. Mas o Google também não tem a propriedade dos computadores. O campo sempre foi um setor primitivo, que teve uma estrutura de capital e negócios primitivos. Queremos modernizá-lo.

O sócio local ajuda a superar obstáculos?
Sim, nosso negócio é conhecer a forma de produção, a tecnologia, que precisa ser adaptada ao local, o conhecimento das pessoas. Não se pode plantar soja sem conhecer o solo, o clima, quem vai fazer o plantio, a colheita.

A relação com esses locais funciona como em uma cooperativa?
Os donos são os produtores, que plantam juntos, que têm parcerias para desenvolver determinado produtos. Há programas de incentivo, e todos são sócios no resultado. É o que chamamos de desenho em rede.

É fácil fazer negócio no Brasil?
Para mim, é [risos]. Não tem sido fácil nem para os argentinos no Brasil nem para os brasileiros na Argentina. A estrutura tributária do Brasil é alta e muito complexa, por causa das diferenças entre os Estados. Cada Estado tem uma particularidade, uma legislação, uma maneira de investir. Por exemplo, é muito complicado plantar em um Estado e querer processar o produto em outro. Mas a cultura da soja no Brasil está crescendo. A agricultura vai crescer no cerrado. O Brasil produz em 55 milhões de hectares, e o mundo espera que chegue a 80 milhões de hectares.

Os produtores de soja brasileiros ainda são primitivos?
Por enquanto, ser dono de terra está veiculado à renda, é como ter um apartamento. Mas a produção da terra é outro negócio e depende daqueles que sabem produzir. Na Argentina, 70% da produção está em terra arrendada. No Brasil é muito menor.

Como analisa a possibilidade de desaceleração na China, que poderia afetar os preços das commodities como a soja?
É bom que a economia chinesa se desacelere um pouco. Se o país seguir crescendo 10% e a demanda crescer no mesmo nível, a produção de grãos hoje não é suficiente para satisfazer isso. Falo de um crescimento chinês de 6%. Vai haver volatilidade, é a dinâmica do mercado, mas os preços estão num nível que dobrou o valor que tínhamos há dez anos.

LOSGROBO em números:
US$ 900 milhões de faturamento anual
270 mil hectares de terra cultivada, no Brasil, na Argentina, no Paraguai e no Uruguai
Comercializam 3 milhões de toneladas de grãos por ano

"A ideia de que para ser produtor não é necessário ser proprietário da terra rompe um paradigma antigo de que os produtores são filhos de fazendeiros. Agora um produtor pode ser um bom aluno de Agronomia"

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