Artigo de Sérgio Pitt: Água, ter e não usar é não ter

Água, ter e não usar é não ter

Sérgio Pitt: 

Quem já viu a sede de perto, e a devastação da seca bem ao lado do magnífico Rio São Francisco, entende a que me refiro. Basta um sobrevoo para ver a fome e a miséria a poucos metros do Velho Chico. Faltam canos - engenhos simples da criatividade humana - para promover um milagre. E faltam porque, antes disso, seria preciso vontade política, bom senso e investimentos - pois tecnologia e conhecimentos já são de domínio público. É preciso usar com eficiência nosso patrimônio hídrico. Implementar a irrigação onde ela não há, e criar mecanismos para otimizar a utilização deste insumo tão importante na produção de alimentos. Sem, com isso, comprometer o meio ambiente e a própria água. 

Para a região Oeste da Bahia, a Aiba defende a criação de um Programa de Maximização dos Recursos Hídricos e Energia Elétrica, cuja aplicação pode dobrar a área irrigada de 150 mil para 300 mil hectares, com o aproveitamento de áreas com menor precipitação pluviométrica, por meio da irrigação complementar. Trata-se de uma revisão dos parâmetros atuais adotados para emissão das outorgas, que utilizam como base o menor nível da água dos rios, da menor ocorrência dos últimos 10 anos. Excluído o período dos quatro meses mais secos, quando não será utilizada a irrigação, a disponibilidade de água nos demais meses será muito maior, podendo dobrar as outorgas sem comprometimento da bacia hidrográfica. Ampliar a capacidade de uso da água significa produzir mais alimentos, que vão chegar mais baratos à mesa do consumidor final.

A arte de “fazer chover” é a chave da sobrevivência humana. Dominar esta técnica foi sem dúvida um dos grandes passos da nossa espécie. Negar o seu acesso a quem precisa é irresponsabilidade, para dizer o mínimo. Água que não se alcança é energia potencial: a comida que poderia ter sido produzida, a renda que poderia ter sido gerada, mas não foi. As divisas que poderiam ter entrado, melhorando a vida de milhares de pessoas. O rio que corre para o mar pode, ao longo do seu curso, produzir riquezas, gerar qualidade de vida e desenvolvimento, promover transformação social.

Sergio Pitt, economista, administrador e vice-presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). No Correio on line!

Comentários

  1. Muito bom o artigo, bastante claro e direto! A prática de atividades diversas para utilizar os recursos hídricos do país de diversas formas deve ser um prioridade. "Faltam canos - engenhos simples da criatividade humana - para promover um milagre.", e o poder público gastando milhões em reformas e construções de estádio para a Copa de 2014.

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