Resenha de 3 de fevereiro de 2013

"Viver é, essencialmente, sofrer, já que a vida é atravessada por um desejo que não se completa, até porque, caso um desejo se realize, outro surgirá em seu lugar" (Schopenhauer, 1788-1860)


No canal CLIMA da UNESP Ilha Solteira há a ferramenta FREQUÊNCIA DE DADOS que consultada sobre a ocorrência de chuva maior que 100 milímetros desde 20/08/1991, resultou em apenas dois dias (ocorrência de 0,03 % dos dados), quando em 13 de janeiro de 2008 choveu 119,6 mm e em 25 de janeiro de 2004 choveu em Ilha Solteira 118,6 mm. Ou seja, não temos registro de chuva de 132 milímetros em Ilha Solteira, ao menos nos últimos 22 anos.

A chuva é uma variável climática de grande variabilidade, como se pode observar nos dias de maiores chuvas de janeiro. No dia 10, em Ilha Solteira choveu 57,9 mm e apenas 3,0 mm na Estação Santa Adélia, distante apenas 16 km. No dia 12, enquanto que em Ilha Solteira choveu 132,3 mm, na Estação Santa Adélia choveu apenas 39,1 mm. Fechando o mês, em Ilha Solteira registrou-se 301,7 mm e na Estação Santa Adélia, 161,3 mm, ou seja, com uma variação de 87%. Já a evapotranspiração, pouco variou no mês de janeiro entre as estações, 157 mm (5,1 mm/dia) em Ilha Solteira e 143 mm (4,8 mm/dia) em Pereira Barreto (Santa Adélia). Na prática, irrigantes no entorno de Ilha Solteira, mesmo com maiores taxas de evapotranspiração, usaram menos horas de bombeamento, pois armazenaram mais água no solo. Veja também como variou as chuvas entre a Usina Santa Adélia e Ilha Solteira nos dias críticos, 10 e 12 de janeiro de 2013.

Em postagem anterior é apresentado o infográfico com o total de chuvas no últimos 10 anos na região de Ilha Solteira. E veja também o balanço hídrico e médias com dados de chuva desde 2000.

A chuva em Ilha Solteira também resultou em danos na Estação de Recalque de Esgoto 6 em Ilha Solteira, no Bairro Nova Ilha. A enxurrada levou o emissário de esgoto que chegava na Estação e também na Lagoa de Tratamento, fazendo com que o esgoto deste Bairro fosse despejado diretamente no córrego "Sem Nome" que por sua vez deságua no córrego do Ipê. A microbacia do córrego do Ipê considerada estratégica pelo Plano Diretor de Ilha Solteira tem recebido atenção da Área de Hidráulica e Irrigação na forma de monitoramento da vazão e qualidade da água em 4 pontos do leito principal. O artigo científico "Uso do solo e monitoramento dos recursos hídricos o córrego do Ipê, Ilha Solteira, SP" de Gilmar O. Santos & Fernando B. T. Hernandez foi último publicado pela AHI da UNESP Ilha Solteira. Conheça também os demais artigos da AHI.

Uma irrigação não pode e não deve ser entendida, única e exclusivamente, como um procedimento artificial para atender às condições de umidade de solo visando à melhoria da produção agrícola, tanto em quantidade como em qualidade ou oportunidade. Ou simplesmente a técnica que permite suprir as perdas de água pelo processo de evapotranspiração, ou seja, a evaporação do solo e a transpiração das plantas. Seria uma definição simplista demais pelo que ela pode oferecer ao produtor rural. Melhor seria definir irrigação como um conjunto de ações e conhecimento eclético que pode levar o produtor a concretizar maiores produtividades e auferir maiores lucros. É consenso que o irrigante está de posse da mais moderna tecnologia de produção agrícola disponível, e, se juntarmos um programa de adubação equilibrado e um bom material genético, devemos ter elevadas produtividades. Ainda, atualmente estes dois insumos, água e nutrientes, podem e devem andar juntos dentro da tubulação através da fertirrigação com inúmeras vantagens. Muitos irrigantes não praticam a fertirrigação por desconhecimento e/ou por limitação técnica. Outros, não a usam por desconhecerem seus benefícios econômicos e acreditam que o investimento no sistema de injeção será mais um “gasto” e assim perdem uma grande oportunidade de auferir mais lucratividade das suas lavouras. Para esclarecer esta situação, no trabalho "Estudo de caso - Análise econômica da fertirrigação e adubação tratorizada em pivôs centrais considerando a cultura do milho” os autores fizeram a análise econômica comparando a adubação que seria feira tradicionalmente por tratores e a conclusão foi de que a adubação via fertirrigação, na cultura do milho proporcionou vantagens econômicas traduzidas em maior lucratividade e rentabilidade, quando comparada com a adubação tratorizada, com um aumento da receita líquida variando entre 5,7% e 10,8% em função da área irrigada pelo pivô centra. Quanto maior a área, maior a lucratividade e menor o tempo para se pagar o investimento no equipamento que faz a injeção de fertilizantes e outros químicos, que tem preço fixo. A diferença na receita líquida é obtida pela diminuição dos custos da operação de adubação de cobertura. Assim, a razão imediata para se praticar ao menos a fertirrigação é o retorno econômico, ou seja, maior lucro ao produtor. Este trabalho traz um ótimo poder de convencimento aos irrigantes que até hoje não investiram no sistema de injeção de fertilizantes e químicos por acreditarem terem de fazer mais um "gasto" e não percebem que trata-se de um investimento com retorno assegurado. Este foi o tema do nosso PodIrrigar - o PodCast da irrigação desta semana.


Já está em vigor a Lei 12.787/13 que cria a nova Política Nacional de Irrigação. A norma tem o objetivo de incentivar a ampliação da área irrigada para aumentar a produtividade agrícola. Parlamentares que relataram a proposta que resultou na nova lei comentam a norma que vai garantir a produtividade dos agricultores e dizem que o ato deve se dar com respeito à preservação ambiental. Projetos públicos e privados de irrigação poderão receber incentivos fiscais, especialmente nas regiões com os menores indicadores de desenvolvimento social e nas consideradas prioritárias para o desenvolvimento regional, como o semiárido nordestino. Com o crédito, será possível obter equipamentos, modernizar instrumentos e implantar sistemas de suporte à irrigação. A Lei 12.787/13 prevê que o Poder Público criará estímulos à contratação de seguro rural por agricultores que pratiquem agricultura irrigada. Em todos esses casos, o governo poderá priorizar os pequenos agricultores.


Calor emitido por cidades pode alterar padrões climáticos: as ilhas de calor urbano (ICUs) são um fenômeno já bem conhecido pelos cientistas climáticos: as alterações na paisagem natural, bem como as atividades humanas, fazem com que mais calor seja produzido nas cidades, o que pode fazer com que a região seja até 5ºC mais quente do que as áreas mais distantes do perímetro urbano. No entanto, uma nova pesquisa realizada por uma equipe da Instituição Scripps de Oceanografia e do Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica dos Estados Unidos revelou que esse calor gerado nas cidades não afeta apenas a temperatura do perímetro urbano e suas proximidades, mas pode alterar sistemas climáticos a milhares de quilômetros de distância e em diferentes épocas. Segundo a análise, publicada no periódico Nature Climate Change, as mudanças causadas pelo calor gerado em áreas urbanas do Hemisfério Norte pode levar a até 1ºC de aquecimento no inverno. Para chegar a essa conclusão, Guang Zhang, líder do estudo, e seus colegas analisaram o consumo de energia que gera o calor liberado no perímetro urbano. Em 2006, o consumo mundial de energia foi de 16 terawatts (16 trilhões de watts). Destes, 6,7 TW foram consumidos em 86 áreas metropolitanas no Hemisfério Norte. Avaliando os padrões de consumo de energia por computador, eles calcularam que o calor emitido seria suficiente para modificar as correntes de ar e para tornar algumas regiões notavelmente mais quentes. No geral, essas mudanças têm um efeito leve, mas perceptível, nas temperaturas mundiais, aumentando-as em média em 0,1ºC. “O que descobrimos é que o uso de energia de diversas áreas urbanas coletivamente pode aquecer a atmosfera remotamente, a milhares de quilometros de distância das regiões de consumo de energia. Isso é realizado através de mudanças na circulação atmosférica”, comentou Zhang. De acordo com os cientistas, esse fenômeno é diferente das ICUs porque afeta as correntes de ar e fortalece os fluxos atmosféricos nas latitudes médias, enquanto as ICUs se concentram nas proximidades das cidades. Apesar de não estabelecer o quanto esse fenômeno contribui na aceleração do aquecimento global, os autores declararam que o efeito do aquecimento urbano colabora para a diferença entre a elevação das temperaturas observada na prática e o aquecimento de inverno simulado por modelos usados pela ciência para análise e previsão do clima.Por isso, os pesquisadores sugerem que a influência do consumo de energia também seja usada, assim como a emissão de gases do efeito estufa e de aerossóis, como uma variável dos modelos climáticos de computador. “Uma estimativa melhor e mais precisa do uso global de energia baseada em informação de cidade a cidade deve ser desenvolvida para dar conta plenamente do impacto climático devido ao consumo de energia nas futuras projeções de mudanças climáticas”, concluíram.

Eventos
Estão abertas até hoje as inscrições para três cursos a distância com os seguintes temas: “Comitê de Bacia: Práticas e Procedimentos”, “Outorga de Direito de Uso dos Recursos Hídricos” e “Alternativas Organizacionais para Gestão dos Recursos Hídricos”. As capacitações totalizam 180 vagas e são oferecidas pelo projeto Água - Conhecimento para Gestão, que é uma parceria entre a Agência Nacional de Águas (ANA), a Itaipu Binacional e a Fundação Parque Tecnológico de Itaipu (PTI). As aulas acontecerão entre 18 de fevereiro e 17 de março com uma carga de 20 horas. Para visualizar o conteúdo programático do curso de interesse, ter mais informações e para fazer a inscrição, acesse http://www.aguaegestao.com/pt-br/cursos/abertos.



Intercâmbio
Sergio Colle (FSP, 31/01/2013, p.A.3) analisa no artigo "Ciência sem bandeira" o programa Ciência sem Fronteiras definindo-o como "O Ciência sem Fronteiras é exemplo de iniciativa que, para a comunidade científica, tem muito de propaganda e pouco de objetividade" e conclui "... Os países que efetivamente reformaram a educação e que despontam como competidores do mundo global de ciência e tecnologia foram aqueles que, racionalmente, utilizaram seus limitados recursos para formar prioritariamente seus cientistas. No momento em que as universidades brasileiras, à exceção de três instituições paulistas, estão excluídas do grupo das 400 melhores do planeta, o governo federal deveria destinar os recursos públicos, prioritariamente, para empreender um programa planejado de formação de doutores qualificados, o que seria um bom começo para reduzir o atraso."

Entrevista Bill Gates - Combate à fome

Erros em artigos científicos e lançamento de livro
Erros em artigos científicos brasileiros são mais conceituais do que de expressão. A redação científica ainda representa o “calcanhar de Aquiles” de muitos pesquisadores brasileiros. E os erros cometidos ao escrever uma tese ou artigo científico estão muito mais relacionados a problemas de metodologia de pesquisa do que à falta de habilidade com as palavras para apresentar os resultados de forma clara, concisa e interessante. A análise de Gilson Volpato, professor do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Botucatu, está na sexta edição revisada e ampliada do livro Ciência: da filosofia à publicação.“É necessário ter uma compreensão muito clara sobre o que é fazer ciência para realizar boas pesquisas, que resultem em artigos sólidos para serem publicados em revistas de alto nível. Não dá só para corrigir a ponta desse processo - a redação científica - sem ter uma base bem fundamentada por trás disso”, disse Volpato à Agência FAPESP. “Se a pesquisa começou errada e é ruim não tem como fazer mágica no artigo. Se o pesquisador estudou uma questão irrelevante, por melhor que sejam os resultados, eles jamais resultarão em artigos científicos que extrapolarão as fronteiras sequer de seu laboratório e que dirá do Brasil”, disse. Um dos principais erros conceituais nos trabalhos publicados por alguns cientistas brasileiros, de acordo com Volpato, é querer fazer ciência para solucionar problemas pontuais e localizados, sem tratar o fenômeno geral, que justamente tem a capacidade de resolver problemas pontuais. Segundo Volpato, alguns dos fatores responsáveis pela ausência da ciência geral são a falta de formação filosófica sobre o que é necessário para construir conhecimento e o fato de que o Brasil ficou por muito tempo fechado para o mundo. Algumas áreas ficaram dissociadas da ciência produzida no exterior. “A redação científica é um forte indicador sobre os conceitos científicos dos autores de forma que para melhorá-la é preciso, primeiramente, corrigir os conceitos dos pesquisadores sobre o que é fazer ciência”, disse. O professor também divulga seu trabalho no site www.gilsonvolpato.com.br , que oferece artigos, dicas e reflexões sobre redação científica, educação e ética na ciência. O site dá acesso a aulas on-line do curso “Bases Teóricas para Redação Científica”, apresentado por Volpato na Unesp. Ciência: da filosofia à publicação. Mais informações: www.bestwriting.com.br

Entretenimento
George "Buddy" Guy nasceu em 30 de julho de 1936, é um dos mais importantes expoente do blues de Chicago e foi premiado por seis vezes com o Grammy de melhor músico de blues, tanto por seu talento como pela sua guitarra elétrica e acústica. Inspirou nomes como Eric Clapton, Jimi Hendrix, Stevie ray Vaughan e outros guitarristas. Na década de 60 fez parte da banda de Muddy Waters e músico de estúdio Chess Records, tendo seu nome marcado em trabalhos de Howlin "Wolf" Koko Taylor; Junior Wells e Wang Dang Doodle. Atualmente aparece na 30ª posição dos 100 melhores guitarristas de todos os tempos da Revista Rolling Stones. Em maio do ano passado foi publicado sua autobiografia chamada de My Story. É um artista muito respeitado e adorado pelos amantes do blues. No video a seguir, o clássico Mustang Sally! Mas assista também tocando com Eric Clapton, BB King e Jimmie Vaughan (Rock me baby), Damn Right I Got The Blues, no Crossroad Guitar Festival 2010 com Ronie Wood & Johnny Lang e na também clássica Miss You (veja o que ele faz quando a corda da guitarra arrebenta), Hoochie Coochie Man, na "Sweet Home Chicago" - o 12 bar blues mais popular, escrito por Roberto Johnson - e ainda treine seu inglês na entrevista no The Late Show with David Letterman. E por fim, você não deixar de assistir a homenagem do Kennedy Center em 26 de dezembro de 2012 à Buddy Guy, vai? Então assista também a apresentação da homenagem feira por Morgan Freeman.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Por que a água evapora sem estar a 100° C ?

A Importância da DBO

Pivô central: história e características