O jugo da fome por Marcos A. Ayres

O JUGO DA FOME
Por Marcos A. Ayres

É chuva, é água, é inundação
Nas ruas da Capital
Enquanto lá no Sertão
A seca é coisa normal
E a fome da população
Faz todo mundo ser igual.

A vaquinha não pode com o chocalho,
Os cabritos já se deitaram,
O povo não tem trabalho
E alguns já se encostaram
Aproveitando o atalho
Que os governantes deixaram.

A esmola viciou o cidadão
Como já dizia Luiz Gonzaga
Na letra de um belo baião
Em que descreve a dura saga
De quem vive na escravidão
E tem a fome como praga.

Cadê a água do São Francisco
Que há muito foi prometida
E, como um arranhado disco,
Em toda campanha cria vida,
Mas nunca passa de um risco
Na esperança perdida.

Na falta de saúde e educação
Dá-se, ao povo, uma esmola,
Que é paga em prestação
Para o filho que vai a escola
Sem perspectiva de evolução,
Mas, a isso, ninguém dá bola.

A chuva é cíclica
E a fome é permanente
Nessa população acrítica
Que continua doente
Sob o jugo da classe política
Que sempre lhe foi indiferente.

Comentários

  1. Marcos Ayres é médico, mas antes, um nordestino. Se formou na Paraíba, mas antes de vir fazer carreira em São Paulo, frequentou com grande assiduidade a famosa feira de Campina Grande. Hoje, de volta a sua Terra Natal, a Paraíba, empresta sua experiência à população de pequenas cidades do interior. Sabe o fala em relação à água!
    Parabéns poeta! Um dia mudaremos este jogo, seguindo o exemplo de muitas regiões e países que fizeram a seca se curvarem à população e se tornaram grandes celeiros de produção agrícola.

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  2. Amigo e compadre, Tang. Poema extremamente atual, que nos inspira a reflexão da importância contínua de investimento em Educação. Chega de acéfalos no poder. Que a fé e a sabedoria reforce a nossa esperança em dias melhores. Vamos em frente. Abraços.

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