Aula DOZE: o manejo da irrigação em discussão

"Uma das regras mais rígidas da navegação marítima estabelece que em caso de naufrágio iminente ou possível o comandante é o último a deixar o navio. Tivemos, recentemente, dois casos que desmentem a tradição." (Carlos Heitor Cony, em Naufrágios, na Folha de São Paulo em 27/04/2014)

Nas aulas da semana passada finalizamos o projeto de aspersão e os conceitos envolvidos na elaboração de um projeto de irrigação. A irrigação é o método artificial de aplicação da água na agricultura que tem a finalidade de suprir as necessidades hídricas da planta, em caráter total ou suplementar. Isto quer dizer que a irrigação viabiliza o cultivo de espécies de plantas em locais onde, sem sua aplicação, seria impossível suprir as plantas com água. Através do desenvolvimento tecnológico e da criação de diferentes métodos de irrigação e metodologias de manejo, a irrigação tornou-se sinônimo de eficiência de produção, modernidade e de garantia de qualidade aos produtos. Em aulas reforçamos o manejo da irrigação, onde conceitos como evapotranspiração de referência e da cultura, coeficiente de cultura, CAD, água disponível, reserva de água no solo, umidade crítica,velocidade de deslocamento, lâmina aplicada, entre outros, foram ensinados. Em relação ao manejo da irrigação via solo há a necessidade de se medir a umidade no solo e a partir daí chegar ao total de água armazenado na faixa que representa a profundidade efetiva do sistema radicular. Para tanto a curva de retenção de água no solo é fundamental e o modelo de Genucthen (1980) é muito útil para trabalharmos matematicamente estes dados e Dourado Neto et al (2000) escreveram o software SWRC que nos ajuda muito na modelagem, na busca pelos parâmetros do modelo e com estes dados podemos também construir com este conhecimento, o tensiômetro de faixa, ou "semáforo". Os livros-textos (didáticos), bem como os softwares e sítios para os temas abordados estão disponíveis no canal "Atividades Acadêmicas - Bibliografia" no canal da Área de hidráulica e Irrigação da UNESP Ilha Solteira.

Tensiômetro monitorando a umidade do solo cultivado com grama e citros no entorno do LHI.


Consideramos o maior de todos os desafios é a implantação do manejo da irrigação pelo irrigante, exatamente por demandar conhecimento técnico e prática diária de coleta de informação e cálculos para a tomada de decisão. Trata-se de um grande desafio em qualquer lugar do mundo em que se use a irrigação para garantir as elevadas produtividades. Veja alguns exemplos de eventos para treinar e disseminar o conhecimento neste tema na Nova Zelândia (1) e Estados Unidos (OregonMaryland). Mas assista também o depoimento de irrigante no Perímetro Baixo Acaraú no Ceará e os cuidados com os tensiômetros para o manejo da irrigação. A previsão do tempo é uma ferramenta importante e deve ser utilizada em conjunto para decidir o início da irrigação. Vários serviços estão disponíveis, o Forecast é apenas mais um exemplo!

É um pouco antigo, mas é ainda é um ótimo video sobre a importância da agricultura irrigada, os sistemas de irrigação e o manejo da irrigação.


Esta semana foi intensa. Aula na segunda, palestra na quarta-feira foi sobre "A IMPORTÂNCIA DA INFORMAÇÃO CLIMÁTICA E SUA COMUNICAÇÃO PARA A SOCIEDADE" ministrada no VIII ENCIVI - Encontro das Ciências da Vida foi uma ótima oportunidade compartilhar os bastidores e resultados do nosso trabalho de comunicação, como um Projeto de Extensão Universitária!

Na quinta-feira, dia 22 de maio de 2014, conversamos em Cassilândia MS com os alunos da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) sobre o tema "Conhecendo e planejando a agricultura irrigada" durante a IX Semana Agronômica e II Semana de Pesquisa da Pós Graduação. Ao chegarmos em nosso hotel, bem em frente um caminhão estava pintado com os dizeres abaixo e acreditamos que seria mais que coincidência, e sim um boas vindas à Cassilândia, onde o cenário da pastagem de baixo nível tecnológico começa a dar lugar ao plantio da seringueira com alta tecnologia e planejamento e à irrigação. Há menos de um mês um pivô central começou a funcionar e seus 123 hectares já estão plantado com feijão e a expectativa é o aumento da renda e de oportunidades para toda a região.


Outro destaque foi a satisfação de poder conversar sobre irrigação e fazer isso reencontrando os amigos Etienne Groot, Luciana Groot, Ana Carolina Alves, Ronaldo Cintra Lima, Ramon Rochetti, Sérgio, Flávio e João Paulo Alves.



Visita da ETEC Araçatuba


Pod Irrigar
O Pod Irrigar anterior registrou a maior repercussão entre todas as edições feitas até o momento, tanto em audiência como em "feedback". Confesso que o interesse que o tema despertou nos surpreendeu positivamente e a diversidade de comentários também foi grande. 
Uns queriam saber mais sobre a qualidade da água do "volume morto", outros queriam saber como se define este volume. Outros me disseram, "mas porque tudo isso, esta repercussão toda, não seria o caso de emendar tubos e deixar a bomba puxar a água?" e ainda outros diziam, "entendo tudo, com uma linguagem clara, mas ao final não entendi nada, você falou de um tal de NPSH disponível, ahh, isso é muito técnico e embolou tudo". Pois é, sem querer, de todas as observações esta última é realmente a que trata do problema técnico e que motivou de fato o alerta especialmente aos projetistas e tinha como objetivo chamar a atenção dos usuários de água. Todas as observações acima estão interligadas.
Não é só colocar mais tubos! Os reservatórios na medida que se esvaziam, o nível da água se distancia do conjunto moto-bomba, e dependendo da declividade do solo, muitas vezes a longa distância e ao colocar novos tubos para encontrar a água aumentamos a diferença de nível entre a água e o eixo da bomba, aumentamos a perda de carga que ocorre no transporte desta água e tudo isso está interligado à uma equação que caracteriza o NPSH disponível, ou seja, a condição local de bombeamento e altera totalmente ou até inviabiliza o funcionamento da bomba.
Assim, a lição que deve ser aprendida nesta crise de oferta de água é de que os projetistas não devem se basear apenas nas cartas topográficas e ir a campo, se preocupando em descobrir qual o nível de água mais baixo e a frequência com que ocorrem e assim, projetar com uma segurança maior para que não fiquem sem água quando ela for necessária! Esse foi o tema que desenvolvemos esta semana no Pod Irrigar - o Pod Cast da Agricultura Irrigada desta semana. Ouça também os anteriores.

Margem direita do reservatório de Ilha Solteira em 21 de maio de 2014.

Infraestrutura

Carreira

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