Aula QUINZE e DEZESSEIS - Irrigando mamão e citros com gotejamento e pivô central

Visita técnica - aula prática de Irrigação e Fruticultura nas Frutas Scholl em 22 de agosto de 2015.

Pod Irrigar - Sistemas de irrigação garantem a flexibilidade na escolha da cultura e data de plantio
Os sistemas de irrigação são sempre lembrados por livrar os produtores de alimentos da vulnerabilidade imposta pela falta das chuvas e assim, garantindo o suprimento hídrico às culturas, a elevada produtividade pode estar garantida.
Contudo, os sistemas de irrigação trazem consigo outras vantagens de grande relevância que ajudam no aumento da rentabilidade do negócio "produção de alimentos". Com sistemas de irrigação podemos escolher a época de plantio e também o que plantar e assim, produzir em épocas diferentes daqueles plantios tradicionais, quando muitos colhem ao mesmo tempo e sendo a agropecuária sujeita a aplicação direta da Lei da Oferta e da Procura, ter flexibilidade de plantio e semear culturas diferentes do senso comum, pode representar maior lucratividade ao irrigante.
Atentos à estas questões, alguns produtores de alimentos perceberam que o amendoim é uma cultura de plantio tradicional do período chuvoso e que em dezembro existe uma ociosidade das estruturas de secagem, os preços pagos pelos grãos são maiores e ainda se plantaram em agosto, colherão com produtividades maiores e ainda existe uma expectativa de rentabilidade melhor que a do milho tradicionalmente plantado sob pivô central no segundo semestre.
E assim, no noroeste paulista sob pivô central, já encontramos amendoim semeado em agosto, diferenciando apenas no ciclo das variedades. Alguns irrigantes apostam em variedade de ciclo curto com colheita em 90 dias, outros apostam nas variedades tradicionais de 130 dias. Com plantio no início de agosto, a expectativa é a de que estas variedades completarão seus ciclos com uma evapotranspiração acumulada variando entre 340 e 540 milímetros, respectivamente.
Neste momento e em relação às culturas temporárias, aqui no noroeste paulista, os sistemas de irrigação estão sendo empregados para a produção de milho e tomate e este movimento dos irrigantes que buscam alternativas para a produção e rentabilidade através do amendoim embute nova responsabilidade aos pesquisadores, que é a de definir coeficientes de cultura - os chamados Kc - adequados às variedades de ciclo precoce e normal em uma região que antes tinha na cultura o plantio apenas no período chuvoso.


Coeficiente de cultura para o amendoim (adaptado do Boletim FAO 56 - Allen et al, 1998).


A Rede Agrometeorológica do Noroeste Paulista divulga diariamente o valor da evapotranspiração de referência, com os coeficientes de cultura, chegamos a evapotranspiração da cultura, que deve ser reposta pelos sistemas de irrigação e já algum tempo estamos trabalhando na definição destes coeficientes, combinando informações provenientes de estações agrometeorológicas com imagens de satélite e assim subsidiar o uso eficiente da água para irrigação. Bem vindo à região. o amendoim! Parabéns irrigantes pela inovação! Este foi o tema do Pod Irrigar - o Pod Cast da Agricultura Irrigada desta semana. Ouça também os anteriores.

Aulas - Projetando sistemas de irrigação localizados
Finalizamos um projeto de irrigação localizada, microaspersão em citros, saindo do volume necessário e chegando ao memorial descrito. Relembramos a Fórmula Universal de perda de carga e as suas aplicações e critérios de projeto. Em um setor irrigado a perda de carga não pode passar de 20% da pressão de serviço, e no caso da irrigação localizada, a perda de carga deve ser distribuída entre a linha lateral (55%) e linha de derivação (45%). Chamamos a atenção para o cálculo do tempo de irrigação para o atendimento do volume necessário em cada planta, ou seja, devemos prestar atenção no número de emissores que está atendendo cada planta. Veja em atividades acadêmicas exercícios e exemplos de dimensionamento. O uso de planilhas eletrônicas para a resolução do dimensionamento é incentivado e desejado para a fixação do aprendizado, especialmente nesta fase de dimensionamento de linha de derivação onde utilizamos a linha "telescópica".

No projeto de irrigação por microaspersão em citros que fizemos, concentramos a maior parte do tempo na linha de derivação, que é "telescópica" para que seja possível manter a pressão dentro das condições que caracteriza um bom projeto de irrigação, que não pode ter uma perda de carga maior que 20% da pressão de serviço no setor irrigado, sendo 11% o máximo a ser perdido na linha lateral e 9% na linha de derivação, que ainda tem que sofre a contabilidade decorrente da diferença de nível, uma vez que a linha está com fluxo morro abaixo. Veja o exemplo em que a pressão desejada na entrada de cada linha lateral é de 15,8 mca e colocamos esta mesma pressão chegando no cavalete dos setores superiores. Assim, se construirmos nossa linha de derivação com diferentes diâmetros e comprimentos. A planilha e o gráfico a seguir ilustra o dimensionamento da linha de derivação e a pressão resultante. Vale a pena usar a planilha eletrônica e fazer igual para a fixação do aprendizado.


Na situação do exemplo, a pressão média da linha de derivação será de 15,4 mca (variação de 7,7% no setor), com pressão máxima de 16 mca e mínima de 14,8 mca e diferença entre a primeira e a última linha lateral será de -4,4%, com variação máxima de 4% e mínima de -3,5% em relação à pressão média, como se extrai da planilha acima e gráficos abaixo.


Se a linha principal ou adutora (neste caso incluindo a linha secundária, porque operamos um setor de cada vez) é de 445 (80+350+15) metros e utilizarmos tubulação de 4" (velocidade = 1,5 m/s) haverá uma perda de carga de 8,5 metros. Observe que após calcularmos a perda de carga na linha secundária e na linha principal, devemos adicionar a diferença de nível e a perda de carga localizada e assim, se tem a pressão necessária na saída da moto-bomba. Foi reforçado aos alunos para que façam seus estudos auxiliados pela construção de uma planilha de cálculo, permitindo um melhor entendimento das variações de perda de carga e pressão. Depois devemos dimensionar a sucção utilizando uma velocidade em torno de 1,0 m/s, somar a altura manométrica de recalque (pressão na saída da moto-bomba) com a altura manométrica de sucção e assim, obtém-se a altura manométrica total, que multiplicada pela vazão resultará na potência no eixo da bomba, que multiplicada pela reserva de potência, resultará no motor necessário para o acionamento. Pronto, agora só lista o material a ser utilizado e confeccionar o memorial descritivo. Utilizamos a Fórmula Universal, mas podemos dimensionar por Hazen-Williams, pois estamos bombeando água e a tubulação é maior que 2". Fiquem a vontade na escolha da equação!


Microaspersores irrigando árvores de manga em Juazeiro - BA. Dois microaspersores por planta.

Hidrômetro garante o acompanhamento da água consumida.

Aula prática - Visita à Citros Scholl com o acompanhamento da Irrigaterra 
Em um momento em que o oeste paulista sofre as consequências de mais de quarenta dias sem chuvas, os alunos da UNESP Ilha Solteira puderam constatar na prática o contraste oferecido pelas condições de sequeiro, com pastagens secas e paisagem que se assemelha as condições do semi-árido e o verde proporcionado pela segurança hídrica dos sistemas de irrigação, que com seus efeitos multiplicadores oferecem oportunidades em toda a cadeia de produção. 

Contraste entre a pastagem seca e o verde proporcionado pelos sistemas de irrigação que garantem produção e receita o ano todo. 

Ontem - 22 de agosto de 2015 - juntamos esforços com a a Professora Dr. Aparecida Conceição Boliani e os alunos das disciplinas de Irrigação e Drenagem e Fruticultura da UNESP Ilha Solteira participaram de uma visita técnica na Frutas Scholl, onde acompanhados dos Engenheiros Agrônomos também da Irrigaterra participaram tiveram a oportunidade de participar de uma atividade multidisciplinar que visou aprofundar os conhecimentos sistemas de irrigação, especialmente o pivô central e o gotejamento que viabilizaram uma das experiências inovadoras na produção de citros e mamão e que acontece na nossa região. A experiência de conhecer um sistema de produção em que o consórcio entre as duas culturas potencializa a rentabilidade do negócio de produção de alimentos, abrindo oportunidades em vários ramos da cadeia de produção pode ser considerado uma privilégio aos nossos alunos, sendo o produtor João Luiz Scholl um inovador. Agrega-se à visita a constatação de como o irrigante está mitigando os efeitos do baixo nível prolongado do rio Paraná, sob a influência da Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira.

Balsa improvisada suporta a segunda motobomba que funcionando em série entrega água na casa de bombas. O baixo nível dos reservatórios impõe restrições técnicas e custos aos irrigantes.

Os alunos foram recepcionados pela Engenheira Agrônoma Nayara Prado, que contou sua trajetória desde a sua formação na UNESP Ilha Solteira até ser efetivada na Frutas Scholl, sendo a responsável pela comercialização da produção da fazenda, mamão com destino principalmente à região sul do país, sendo a nossa região a metade da distância do principal centro produtor que fica no norte do Espírito Santo e sul da Bahia. Já os citros são produzidos para mercado, mas como não sofrem beneficiamento na propriedade tem como destino o Ceasa.

Na sequência os Engenheiros Agrônomos da Irrigaterra - empresa especializada em sistemas de irrigação e drenagem fizeram uma análise do atual cenário da agricultura irrigada e também de perspectivas futuras. O primeiro a falar foi o Gerente Geral, o Engenheiro Agrônomo Marcelo Akira Suzuki que comunicou a todos a satisfação pela Irrigaterra ter vencido a licitação para construir todo o gramado da Nova Arena de Votuporanga. "Será uma Arena construída no padrão CBF, com topsoil, grama, sistema de drenagem e irrigação no mais moderno padrão construtivo, desde os cuidados no projeto até nos materiais utilizados. Teremos orgulhos em dizer que a Irrigaterra - uma empresa da região - executou esta obra". Marcelo também fez comentários ao mercado de irrigação paisagística e dos trabalhos executados pela empresa em várias cidades brasileiras, irrigando áreas institucionais de condomínios. O Gerente Comercial, Engenheiro Agrônomo Mauro Takao Suzuki fez uma explanação sobre mercado de pivôs centrais e irrigação localizada, como atual e deixou os aspectos técnicos de cada sistema para serem abordados no interior da área irrigada, onde foi bastante questionado pelos alunos. Também pertencente à Irrigaterra, a Engenheira Agrônoma Yane Freitas contou também a sua trajetória profissional até ser efetivada na Irrigaterra. "Façam estágio, não desprezem visitas técnicas, não menosprezem os ensinamentos, acreditem, vocês vão precisar deles", enfatizou.

Já no interior da área irrigada e sob um pivô central irrigando citros uma "chuva" de perguntas feitas pelos alunos foram respondidas pelos Engenheiros Agrônomos Mauro, Nayara e Yane, com comentários, quando oportunos, meus e da Professora Boliani. Para irrigação dos citros Mauro deixou bem claro as adaptações necessárias e que o vão livre deve ser de pelos 5,0 metros e o da Lindsay, comercializado pela Irrigaterra e implantado na Fazenda tem 5,8 de vão livre. 

No cabeça de controle, onde se localizam os filtros e o sistema de injeção para a fertirrigação, houve a explicação do funcionamento dos mesmos e também os procedimentos que acontecem durante a filtragem e a retrolavagem e a seguir os alunos desceram até a casa de bombas para conhecer as instalações e adequações feitas pelo produtor para continuar irrigando mesmo com a baixa do nível do reservatório de Ilha Solteira, devido a crise hídrica vivida atualmente, entre elas o aumento na tubulação de sucção e a associação de bombas em série.

Os alunos também receberam informações sobre as diferentes variedades de citros e de mamão implantadas e os sistemas de produção utilizados, e como se faz a consorciação entre citros e mamão. Em uma área recém implantada foi possível visualizar a importância da sexagem na cultura do mamão e a Engenheira Agrônoma Nayara Prado explicou que "na propriedade são colocadas três mudas por cova de mamão e mantidas até a floração, onde ocorrerá a sexagem das plantas e assim serão mantidos preferencialmente as plantas hermafroditas, pois estas são responsáveis pela produção de mamão comercializados".

No consórcio entre citros e mamoeiros, o produtor planta mamão nos espaços entre plantas de citros porque "o mamão começa a produzir frutos comerciais em 6 meses enquanto o citros leva aproximadamente 3 anos para trazer retorno ao produtor, assim o mamão aproveita a estrutura, como a irrigação por gotejamento, do local e seu lucro acaba custeando o plantio das novas plantas de citros", explicou Nayara. No Canal da Área de Hidráulica e Irrigação da UNESP Ilha Solteira há uma página com detalhes da visita e o registro fotográfico.

Nas aulas da semana trabalhamos com projeto de irrigação por microaspersão em citros, mas na visita técnica se visualizou o uso do gotejamento em citros e o gotejamento tem tido uma aplicação cada vez mais abrangente, que inclui diferentes culturas e cada vez mais se destaca o uso na área urbana, com jardins de diferentes naturezas e formatos. Trinta e duas casas em cada cinquenta casas americanas tem sistemas de irrigação para irrigar o gramado e as flores e assim, a paisagem é sempre muito bonita. A irrigação também é utilizado em áreas públicas em larga escala, pois nas cidades, o produto a ser "vendido" não é grão, mas a beleza que traz um conforto visual muito valorizado. Este movimento de irrigar áreas públicas ou coletivas já vem sendo observado no Brasil, especialmente em áreas institucionais de condomínios, cujos gestores já perceberam que o investimento compensa, pois além de valorizar prontamente o empreendimento, em menos tempo do que se esperava, a economia de mão de obra e da água desperdiçada com as mangueiras, amortiza o investimento feito nos sistemas de irrigação, que automatizados, permitem inúmeras combinações de tempo e horário de funcionamento e assim os resultados são reais e trazem satisfação aos moradores.

Gotejamento irrigando jardim em área pública.

Agenda - Próximas palestras


Recursos hídricos

SP: Rio Camanducaia em nível crítico de vazão, no Bom Dia Brasil e no Jornal Hoje.

Cana
Brasil pode colher 655,2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra 2015/2016, o que representa um índice 3,2% superior aos 634,8 milhões de toneladas da safra anterior. Os números apresentados nesta quinta-feira, 13, pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) não surpreenderam o corpo técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), já que é natural a mudança dos dados em função da dinamicidade do setor, onde as questões mercadológicas e de clima influenciam bastante na tomada de decisões na produção. A entidade entende ainda que os números apresentados passarão por novos ajustes em um terceiro levantamento, já que há uma expectativa de continuidade das interferências climáticas do El Ñino com previsão de chuvas iniciando mais cedo, o que pode afetar diretamente a colheita, além das posições de mercado que podem também ter leves modificações.

Emprego - Capacitação - Carreira


Cidadania
Parabéns aos voluntários que plantaram árvores na praia Marina de Ilha Solteira hoje pela manhã. Gostei demais da ideia de deixar registrado quem fez o plantio. Iniciativas como estas precisam ser multiplicadas.

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