Aula NOVE: Qualidade da água, os recursos hídricos e a agricultura

"A crise é para todos! Mas a oportunidade é para cada um! Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças." (Max Gehringer, Fantástico, 27/12/2015).

Pod Irrigar - O Pod Cast da Agricultura Irrigada - e o FACEBOOK

Aulas - Qualidade e disponibilidade da água 
Tanto a disponibilidade ou vazão, como a qualidade da água encontrada dependem de como tratamos o solo na bacia hidrográfica, que é a região delimitada por divisores de água, que são os pontos mais altos do terreno. Ausência de conservação do solo, que envolve, por exemplo, terraceamento, cobertura do solo, presença de matas ciliares, causa erosão e com as chuvas, resulta em assoreamento dos córregos e rios, e como isso afeta diretamente a qualidade da água que pode ser classificada em fatores físicos, químicos e biológicos e pode afetar o homem, a cultura de interesse ou os equipamentos de irrigação. Conforme o interesse pelo uso da água, cada elemento assume importância diferente. No caso da irrigação, os principais problemas decorrentes de uma água de má qualidade estão relacionados com a obstrução física de equipamentos, contaminação de alimentos e toxicidade iônica específica, popularmente chamada de “queima” das plantas.

Entre os fatores biológicos os coliformes provenientes de instalações industriais e esgotos urbanos e plantas aquáticas são as principais preocupações para o irrigante. Dentre os fatores físicos, os sólidos em suspensão e areia na água causam principalmente desgaste nos equipamentos. Uma concentração de ferro total na água superior a 0,75 mg/litro é a principal preocupação quando utilizamos sistemas de irrigação localizada, tanto no gotejamento como na microaspersão, sódio é um problema mais comum na regiões semi-áridas e “águas duras” com elevada concentração de cálcio e magnésio podem trazem entupimento de gotejadores. Estes são fatores químicos. Qualidade da água e seus efeitos sobre os sistemas de irrigação é bem abordado no livro de Nakayama e Bucks (1986). UCKER et al (2013) fizeram uma boa revisão sobre os elementos interferentes na qualidade da água para irrigação.

Nas aulas analisamos cada característica acima e como afetam o desempenho dos sistemas de irrigação, os cultivos e o homem. Também vimos as estruturas de filtragem que compõem um cabeçal de controle, um reservatório intermediário ou ainda um canal de decantação. Utilizamos na aula prática um módulo completo de filtragem, composto por filtros hidrociclônico, de areia e de discos ou malhas como elemento filtrante. Também conhecemos os elementos que compõem o bombeamento, ou seja, o crivo, a válvula de pé, o mangote, vacuômetro, registro de gaveta, manômetro, tubulação de PVC e suas conexões e por fim o tubo de subida (com válvula) e o aspersor. Assim, conhecemos qual a função de cada elemento filtrante, a ordem em que devem ser instalados e ainda entendemos e praticamos a limpeza dos filtros de areia, prática chamada de retrolavagem,

A estação chuvosa traz a água tão necessária à vida, mas também em muitos locais deixa mais erosão e assoreamento, e uma coisa é certa, se desejamos contar com abundância de água e de qualidade, devemos nos preocupar mais com a conservação do solo, realizando em vários níveis, ações para protegê-lo. Consulte também ANA (2005), AYERS e WESTCOT (1985), CARVALHO et al (2000) e CRUCIANI (1980). Veja a ilustração das fontes difusas de contaminação da água (1), dos aquíferos confinados e das recargas dos mananciais e intrusão salina.

Alguns dos nossos artigos sobre o monitoramento da qualidade da água e a vazão em bacias hidrográficas de interesse sócio-econômico no noroeste paulista e também na região do chamado Bolsão Sul Matogrossense são: Qualidade da água do córrego do Cedro para fins de irrigação na produção de alimentos consumidos in-natura, Uso do solo e monitoramento dos recursos hídricos no córrego do Ipê, Ilha Solteira (SP), Qualidade de água na microbacia do Coqueiro no noroeste do Estado de São Paulo, Qualidade da água para uso em Irrigação na Microbacia do Córrego do Cinturão Verde, Município de Ilha Solteira, Análise dos Riscos à Sistemas de Irrigação causados pela qualidade da água do Córrego do Coqueiro, Influência da precipitação na qualidade da água para fins de irrigação na microbacia do córrego do Ipê em Ilha Solteira e Influência do uso e ocupação do solo na qualidade de água para fins de irrigação no Córrego do Ipê, noroeste do Estado de São Paulo. Confira esses e outros artigos publicados pela AHI, que monitora microbacias de importância sócio-econômica no noroeste paulista, como a do Cinturão Verde, do Ipê, do Boi, do Três Barras e do Coqueiro. Confira também mais um exemplo de monitoramento da água, neste caso no rio Acaraú, em Ubatuba.

A água da chuva que cai sobre o Laboratório de Hidráulica e Irrigação da UNESP Ilha Solteira é captada e direcionada para dois grandes reservatórios e é esta água que usamos nas aulas práticas e para manter verde o gramado do entorno do LHI através dos sistemas de irrigação instalados com diferentes aspersores, também base base para as nossas aulas. Um video ilustra sobre o aproveitamento da água das chuvas é o "Águas de Holambra", ideia que deveria ser mais copiada. Apesar de grande usuários de água, os irrigantes investiram na segurança hídrica. É fato que "a água não pode ser um fator limitante quando você tem culturas intensivas como verduras ou flores, assim por diante. Então o esquema é você ficar menos dependente, criar um sistema que você seja independente da água da chuva, de córregos ou do lençol freático...", como é mostrado no video.


Filtragem - Novo livro a disposição
Roberto Testezlaf é um dos gigantes da irrigação. Fez carreira na Unicamp onde é Professor Titular e publicou o manual "Filtros de Areia na Irrigação Localizada" que já é uma referência para o setor, pois traz a público 56 páginas que consolida anos de pesquisa em sistemas de filtragem, onde a teoria encontrou a prática e dessa união teremos a oportunidade de operar de forma mais eficiente nossos sistemas de irrigação. Foi Testezlaf que em julho de 1987 como Gerente Regional da ABID nos franqueou um estágio na Codevasf e proporcionou as condições para que eu acreditasse no potencial da agricultura irrigada e me apaixonasse por esta área do conhecimento. Acostumado a ser avaliado por ele, ao longo da carreira também tive a oportunidade de avaliá-lo em vários momentos e assim, o parabenizo pelo trabalho e por este livro, além de agradecer o Roberto pela amizade! A Biblioteca da UNESP Ilha Solteira já conta com este livro, por doação do próprio Autor!


Mais sobre água

Sensibilização sobre rios invisíveis é tema do PodAcqua Unesp e para cada ponto de enchente em São Paulo, há um rio escondido, afirma geógrafo paulistano Luiz de Campos Júnior. O PodAcqua Unesp é um Podcast semanal voltado para gestão responsável dos recursos hídricos. O Pod Acqua é mais um canal de comunicação oferecido pela UNESP para a disseminação do conhecimento em ligado aos recursos hídricos. Neste canal, o ouvinte conhece um pouco do trabalho de pesquisadores dedicados ao tema que será, sem dúvida, um dos protagonistas deste século: a água. O PodAcqua traz trechos de entrevistas com especialistas da Unesp e de outras instituições, nas mais diferentes áreas do conhecimento, com atenção especialmente voltada à gestão responsável dos recursos hídricos.


Na busca pela água, várias obras de engenharia foram necessárias para desenvolver regiões e foram exemplificadas em aula. E quando se fala de recursos hídricos para se iniciar uma obra, 5 "engenharias" devem ser levadas em consideração: Técnica, Financeira, Ambiental, Institucional e Política. Conheça o Sistema Cantareira.

A Lei 9.433/97, de 8 de janeiro de 1997, chamada Lei das Águas, instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, criou o SNGRH (Conselho Nacional, Estadual, Comitês de Bacias, Agências de Águas, ANA) e instituiu cinco instrumentos de gestão para atingir os objetivos da PNRH que são: Outorga, Cobrança, Plano de Recursos Hídricos, Enquadramento dos corpos d´água em classes de uso preponderante e o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos. Joaquim Shiraishi Neto faz comentários interessantes sobre a Lei das Águas. O Comitê e a Agência de Bacias do PCJ são ótimos exemplos de gestão dos recursos hídricos, que inclui um componente de comunicação muito forte, como exemplo há a TV PCJ, que disponibiliza inúmeros videos sobre a gestão dos recursos hídricos. Minas Gerais dá exemplo e construiu um banco de dados - Atlas Digital das Águas de Minas Gerais - que comporta as regiões irrigadas no país, formado por meio de uma análise que durou duas décadas, trazendo demandas, vazões específicas. Por meio de acesso online é possível analisar a situação das áreas onde há conflito de obtenção do abastecimento de água e qualquer pessoa pode ter acesso por meio da localização geográfica pelo sistema de GPS, em um trabalho realmente muito bom.





Em "Atividades Acadêmicas" há Catálogos Técnicos a disposição para o melhor entendimento deste assunto. Também há a aula prática com registro fotográfico e os dados coletados em campo. Na Fan Page da AHI no Facebook também registramos alguns momentos das nossas aulas, bem como em nosso álbum Aulas Práticas no Facebook.

A EBC preparou uma matéria sobre o uso da água. Não gostei apenas da abordagem de que a agricultura é o setor que mais "gasta" como atividade econômica. Somos sim, o "maior usuário" da água, mas toda água que consumimos volta para a atmosfera, apenas mudará de bacia hidrográfica. Também, a cidade "suja" a água, nós, na agricultura, "limpamos" a água com o uso do solo que faz o trabalho de filtro. Mesmo assim, vale a pena conferir a reportagem que tem um excelente infográfico. A matéria começa assim... A Organização das Nações Unidas (ONU) revela que aproximadamente 70% de toda a água disponível no mundo - que já não é muita - é utilizada para irrigação. No Brasil, esse índice chega a 72%. Pelas análises dos últimos relatórios divulgados pela ONU, o uso da água tem crescido a uma taxa duas vezes maior do que o crescimento da população ao longo no último século. A tendência é que o gasto seja elevado em até 50% até 2025 nos países em desenvolvimento; e em 18% nos países desenvolvidos. “Hoje, 780 milhões de pessoas ainda vivem sem acesso a água potável para beber e muitas outras sem saneamento básico. Por isso trabalhamos com o tema de segurança hídrica; para garantir que a água esteja disponível para produção de alimentos, geração de energia, transporte e preservação de ecossistemas vitais”, disse o presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga, em entrevista relativa ao Dia Mundial da Água, comemorado em 22 de março. Leia a matéria completa! Confira o infográfico preparado pela EBC os dados e análises sobre o uso da água no Brasil e no mundo.



Fotos incríveis da água podem ser visualizadas em Pixabay!

O video/reportagem "Um lago, uma barragem e os agricultores da California sofrendo a jusante" ilustra a triste situação imposta pelo quarto ano de seca neste que é Estado mais rico americano (1). Veja no mapa onde fica o Lago McLure e o condado de Merced ilustrado no video. Um esclarecedor artigo sobre como os usuários se sentem em relação ao uso da água é "Rich Californians balk at limits: -"We’re not all equal when it comes to water"-", onde muitos não aceitam a restrição de água. A matéria ilustra a situação da rica região Rancho Santa Fé, repleto de condomínios e campos de golf. O Merced Irrigation District mantém página no Facebook e também um sítio com muitas informações úteis e o lema é direto "Your Water, Your Power, Our Way of Life! Veja também "Seca assola a California" com muitos comentários, fotos e informações que ilustram as perdas de água por evaporação e mudança da paisagem e ainda o uso de grama sintética como opção para manter o verde e economizar água. Mas há pessoas que acreditam que a Califórnia poderia ter evitado esta grande crise de água. E nós no Brasil, o que vamos fazer para garantir a segurança hídrica? O Chefe da EMBRAPA Soja José Renato Bouças Farias defende que a agricultura precisa discutir uso racional da água o quanto antes. Concordamos!

As aulas dos semestres anteriores podem ser visualizadas a partir do canal "Atividades Acadêmicas" do Canal da Área de Hidráulica e Irrigação da UNESP Ilha Solteira. Videos destas aulas podem ser vistos no Canal da AHI no YouTube. Esperamos que os alunos aprendam e se motivem ainda mais.

UNESP 40 anos

Agricultura - Cana

A atividade rural brasileira colheu bons resultados nos últimos 10 anos. De 2006 a 2015, o valor bruto da produção (VBP) da agropecuária cresceu 73%, saltando de R$ 284 bilhões para R$ 492 bilhões, segundo a Coordenação-Geral de Estudos e Análises da Secretaria de Política Agrícola (SPA), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Nesse período, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor teve aumento anual de 3,7%, acima do PIB da economia, que cresceu 3,3% ao ano. Entre os cinco estados que tiveram maior variação positiva do VBP, dois são do território do Matopiba: Tocantins e Piauí.  Dos R$ 208 bilhões de crescimento do VBP, nesses 10 anos, R$ 128 bilhões se referem às lavouras, ou 64% do total. Em 2006, elas somavam R$ 186 bilhões e passaram para R$ 314 bilhões em 2015.  Já a pecuária contribuiu com R$ 79 bilhões, o equivalente a 36%. Em 2006, o VBP do setor era de R$ 98 bilhões e chegou R$ 177 bilhões em 2015, conforme os dados apurados pela Coordenação-Geral de Estudos e Análises da SPA.



Café

A história dos alimentos
O excelente Globo Repórter de 1/01/2016 conta a história dos alimentos. Show de imagens! Na reportagem ficamos sabendo que a PIPOCA pode ter cinco vezes mais fibra que alface e lenda explica que milho era um tesouro que deuses guardavam dentro de uma montanha no México. Para a ciência, o milho evoluiu de uma gramínea. E você sabe o que é a "Flor do Sal"? O sal foi o primeiro conservante natural dos alimentos, quando ninguém tinha refrigerador, prolongar a durabilidade da carne era uma necessidade. E o embutido surgiu como técnica de conservação, mas é na Itália que a tradição é mantida. Conheça como! E saiba onde fica Gúbbio! Em Aigues-Mortes, que significa águas mortas, os franceses tiram sal de lá há pelo menos 2.500 anos. É a salina mais velha do mediterrâneo. Durante o Império Romano, tinha a mesma importância das minas de ouro e diamante. E as montanhas brancas não são a joia mais preciosa. A água vem do Mar Mediterrâneo: durante a maré alta, ela sobe por canais e entra nas lagoas, até 18 quilômetros acima da praia. Quando a água chega às lagoas, a concentração de sal é de 260 gramas por litro. Isso significa que em cada litro de água, mais de 1/4 é de sal. E um adulto na Irlanda chegou a consumir mais de 6 kg de batata por dia. Na Idade Média tinha dieta não balanceada e pouco nutritiva. E saudemos a mandioca, porque ela afinal sustentou pioneiros na maior cidade do Brasil!

Ortodoxos versus heterodoxos - Opiniões - Articulistas
Bernardo Guimarães da FVG, passou a ser considerado “ortodoxo” quando voltou ao Brasil, em 2010. Nos 10 anos que englobam o seu Doutorado em Yale e o seu trabalho como professor na London School of Economics, ele nunca encontrava essa classificação. Segundo ele, "não porque minhas ideias tenham subitamente se modificado quando voltei ao Brasil. E não porque “ortodoxos” e “heterodoxos” convivam em paz e harmonia fora do Brasil, ou algo assim." Mas... "O que significa ortodoxo em economia?" Ele mesmo explica! Aliás, para explicar, Bernardo usa como exemplo o Qualis, referência na classificação das revistas científicas, que foi tema de seu artigo "Qualis as a Measuring Stick for Research Output in Economics". E se o tema economia te interessou, a dica é o blog "A Economia no Século 21 - O olhar de um pesquisador sobre a economia contemporânea".



Esporte - Planejamento - Ousadia
No [Pod Esporte] o Arquiteto Argus Caruso Saturnino relembra passagens de sua volta ao mundo de bicicleta que incentivou crianças de diferentes povos aos estudos de história e geografia. Uma grande e ousada iniciativa materializada no projeto Pedalando e Educando (2001 e 2005) que realizou uma volta ao mundo de bicicleta, cujo caminho escolhido passou por importantes pontos como Rotas Inca, da Companhia das Índias Orientais, da Seda, das Caravanas do Império Romano, da Expansão do Islamismo, dos Mercadores Africanos e Asiáticos, Estrada Real, dentre outras inúmeras.

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