País perde US$ 15 bi com má formação de engenheiro

Valor é estimativa dos prejuízos com falhas nos projetos de obras públicas

CNI calcula que 150 mil vagas não terão como ser preenchidas até 2012; evasão nos cursos chega a 80%

A baixa qualidade do ensino médio, sobretudo em disciplinas como física, química e matemática, tornou-se obstáculo para a formação de engenheiros no Brasil. Essa falha, agravada pela alta demanda gerada com o crescimento do país, tem custo - e não é pequeno.

Cálculos de entidades de engenharia mostram que o país perde US$ 15 bilhões (R$ 26,5 bilhões) por ano com falhas nos projetos das obras públicas. A cifra, equivalente a 1% do PIB, foi apresentada em encontro nacional de engenheiros, em Curitiba, na semana passada.

A reunião levou à capital do Paraná 850 engenheiros de todo o país com o único propósito: buscar meios de frear a crise sem precedentes da engenharia nacional.

GUERRA

A CNI (Confederação Nacional da Indústria) calcula que 150 mil vagas de engenheiros não terão como ser preenchidas até 2012. Tamanha demanda diante da falta de profissionais criou uma guerra por engenheiros.Em 2003, a formação de um engenheiro custava US$ 25 mil. Hoje, US$ 40 mil, diz a IBM, uma das empresas que mais contrataram engenheiros e técnicos de computação desde quando o Brasil tornou-se base mundial para oferta de serviços.

Essa escassez já atinge a competitividade brasileira. "Em 2009, exportamos US$ 1,5 bilhão em serviços. Só a IBM respondeu por US$ 500 milhões. A Índia exportou US$ 25 bilhões", disse Paulo Portela, vice-presidente de Serviços da IBM, em seminário promovido pela Amcham, em São Paulo.

"Essa disputa [por engenheiros] não ajuda. Vamos perder se entrarmos numa guerra e ampliar a inflação dos custos da mão de obra." O salário inicial, de R$ 1.500 em 2006, já atinge R$ 4.500.

EVASÃO

O diagnóstico da realidade nos 1.374 cursos no país mostra que a evasão nos cursos de engenharia é de 80%; dos 150 mil que ingressam no primeiro ano, 30 mil se formam.

"Só um 1 em cada 4 possui formação adequada. O Brasil forma menos de 10 mil engenheiros com competência e esses são disputados pelas empresas", diz José Roberto Cardoso, diretor da Escola Politécnica da USP, uma das mais importantes faculdades de engenharia do país.

A Amcham (Câmara Americana de Comércio) quer o tema na campanha eleitoral. O documento com o diagnóstico e as propostas compiladas por Jacques Marcovitch, professor da USP e conselheiro do Fórum Econômico Mundial, será entregue ao governo e aos candidatos.

É certo que ficará para o próximo governo a busca da resposta para a pergunta: "Por que o jovem quer ser médico e advogado e não quer ser engenheiro e professor de matemática?".

Exemplo de baixa procura pela área ocorreu em concurso para professor de física em São Paulo. De 931 vagas, só 304 foram preenchidas.


Comentários

  1. O tema é bastante oportuno e vem a corroborar a apresentação realizada pelo Professor/Pesquisador da UnB e Presidente da Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI)José Flávio Sombra Saraiva durante a abertura do III WINOTEC acontecido em 08 de junho de 2010 em Fortaleza. Flávio enfatizou o problema e as consequências do atual déficit no número de formando e da baixa qualidade do ensino empregado na formação de Engenheiros no Brasil e da importância da engenharia e da agricultura irrigada para o desenvolvimento sócio-econômico e em bases sólidas de um país. Este artigo da Folha coloca em números a preocupação passada aos quase 300 participantes do III Workshop Internacional de Inovações Tecnológicas na Irrigação & II Conferência Sobre Recurso Hídricos do Semiárido Brasileiro. Saiba mais sobre o WINOTEC 2010 em http://www.inovagri.org.br/winotec ou http://www.agr.feis.unesp.br/winotec2010.php ou ainda neste BLOG em http://irrigacao.blogspot.com/search/label/Winotec)

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