BOLETIM DO CLIMA: 25 DE FEVEREIRO DE 2011
No imaginário popular, o fenômeno La Niña é visto como sinônimo de prejuízo para o produtor nos cultivos de verão. Esta é uma interpretação equivocada, segundo o agrometeorologista da Embrapa Trigo, Gilberto Cunha. "Os nossos maiores problemas de frustração de safra por estiagem no sul do Brasil, a exemplo de 1990/91 e 2004/05, não ocorreram em anos de La Niña. A influência maior do La Niña na redução de chuvas se dá na primavera, nos meses de outubro e novembro, que não coincidem com o período crítico de desenvolvimento da soja, na floração e enchimento de GRÃOS".
Em estados como MS, SP, PR, SC e RS, conforme a CONAB, o volume de chuvas esteve acima da média. Contudo, mais do que o volume total de precipitações, o que mais contribuiu na produção de GRÃOS foi a freqüência das chuvas. A situação climática favoreceu o desenvolvimento das plantas e a boa formação das vagens, o que pode aumentar a produtividade média no Centro-Oeste e no Sul, principais regiões produtoras do Brasil.
Segundo a pesquisadora da Embrapa Trigo, Leila Costamilan, as doenças de soja no Rio Grande do Sul, de modo geral, estão se manifestando de forma menos intensa que em anos anteriores, principalmente quanto ao oídio. A ferrugem foi bem controlada na maioria das lavouras.
Entretanto, devido às chuvas bem distribuídas, alguns focos com severidade alta de ferrugem foram registrados, porém não comprometendo a alta produtividade prevista para esta safra.
No Rio Grande do Sul, a baixa incidência de doenças e a abundância de chuvas nas principais regiões produtoras de soja resultou em plantas que cresceram acima de um metro de altura. Para o pesquisador da Embrapa Trigo, Paulo Bertagnolli, o tamanho das plantas não deve afetar o rendimento, ou seja, não prejudica nem favorece a lavoura. Entretanto, as plantas muito altas tendem a acamar com facilidade, dificultando a colheita. "Cultivares que historicamente não acamam, nesta safra estão mais suscetíveis. O acamamento é mais prejudicial na fase de desenvolvimento da planta. De modo geral, quanto mais cedo acamar, maior será o dano", explica Bertagnolli. O pesquisador avalia que a soja também pode acamar por outros fatores além da quantidade de água, como alta fertilidade, excesso de plantas e má distribuição na lavoura, sol e calor durante o dia e noites mais frias, entre outros.
Segundo o pesquisador da Embrapa Trigo, Mércio Strieder, essa maior estatura de planta também relaciona-se ao fato da maioria dos produtores ter usado densidade de semeadura 20% maior nesta safra. "Esta prática é indicada para aumentar a competição entre plantas e, desta forma, estimular o desenvolvimento para compensar plantas com menor estatura por causa da limitação hídrica. Entretanto, uma vez estabelecidas as lavouras, com densidade de plantas superior, e com maior volume e freqüência nas precipitações, a estatura da planta de soja ficou maior em relação à condição com precipitações normais e com a densidade usualmente indicada", esclarece Strieder.
Os especialistas alertam que para evitar perdas ao colher a soja acamada, a operação deve ser realizada com menor velocidade da máquina e com ajustes mais freqüentes na altura da plataforma de colheita. "Considerando o padrão de desenvolvimento das lavouras até o momento e em se mantendo as precipitações durante as próximas duas semanas, a expectativa é de safra cheia, com registro de rendimentos recordes por área nas diferentes regiões produtoras" observa Mércio Strieder, lembrando que, com os preços em alta e confirmando a expectativa de grandes rendimentos, os produtores deverão ter bons ganhos com a soja nesta safra, assim como já vem ocorrendo com o milho.
Fonte: Embrapa
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