Entrevista do Reitor da UNESP Júlio Durigan

"A divisão de recursos precisa ser repensada"

O reitor em exercício da Unesp, Julio Cezar Durigan, afirma que a instituição precisa de uma porcentagem maior da verba concedidas às universidades estaduais. Ocupando o cargo desde que Herman Voorwald foi nomeado secretário estadual de Educação, Durigan é presidente do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo (Cruesp). Leia trechos da entrevista dada ao Estado:

A Unesp já tem uma graduação sólida. A instituição chega aos 35 anos com qual foco?
A Unesp tem naturalmente uma vocação de interagir com a comunidade social e cultural, técnica e economicamente. Isso ela não consegue deixar de fazer. Cada unidade tem importância até mesmo no orçamento dos município. Sempre teremos pedidos das unidades e de políticos querendo criar novos cursos. Mas o que estamos fazendo agora é reduzir essa expansão, mantendo a qualidade e aumentando o foco para o exterior.

Por quê?
Por ser do interior, a Unesp esqueceu um pouco o lado internacional, pois se preocupou em dar solidez à graduação e qualidade à pós. Por volta de 2002, houve um aumento grande, de 38 cursos, e trabalhamos nisso até hoje. Agora estamos sedimentando o processo, com a formação das primeiras turmas e boas avaliações.

As dificuldades desses novos câmpus foram superadas?
Todas as unidades novas, até as chamadas consolidadas, tiveram os problemas que os campos experimentais têm. Todo câmpus novo não tem a estrutura que realmente precisa. Mas isso vai se resolvendo. A universidade investe, os professores fazem projetos e conseguem dinheiro dos órgãos de fomento. É um processo - todas as unidades começaram com dificuldades e foram se firmando. Das novas, muitas já têm uma boa biblioteca, salas de aula, laboratórios.

É difícil atrair professores de qualidade para cidades muito pequenas?
Não. Temos tido uma procura grande nos concursos. Mesmo com exigências, atraímos quem têm vocação e quer trabalhar em uma boa universidade pública.

Unidades grandes, como Bauru, não tinham requisitos básicos, como moradia estudantil. Como está esse processo?
Bauru é o melhor exemplo. É um câmpus grande e complexo, com demandas que precisavam ser atendidas, como a piscina para o curso de Educação Física. Agora temos um centro aquático, que será usado nas Olimpíadas. Iniciamos a construção de um restaurante universitário e estamos terminando uma moradia estudantil. Para os outros câmpus, fizemos um plano de obras para três anos: 2010, 2011 e 2012. Estamos priorizando as necessidades das unidades, indicadas por elas mesmas, investindo R$ 300 milhões. Isso faz a diferença na estrutura. Além disso, o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) trouxe planejamento para a Unesp.

O que o senhor acha da fama de "prima pobre" da Unesp?
Quando as universidades receberam autonomia, em 1989, dividiu-se o porcentual do ICMS para as três. Na época, a USP ficou com 5,02% dos 9,57%, porque já era uma "senhora" experiente. A Unicamp era uma adolescente que já sabia o que queria e ficou com 2,19%. Mas a Unesp era um bebezinho. Éramos uma instituição muito jovem, junção de 14 unidades dispersas, com menor força política. Ficamos com 2,34%. Mas a Unesp de 22 anos atrás não é a de hoje. A divisão precisa ser repensada. A USP tem mais do que a soma da Unesp e a da Unicamp - e hoje ela não é muito mais do que as duas juntas. O governo diz que só muda isso na Assembleia se o Cruesp enviar a proposta. O tema ainda é muito difícil e nunca se formalizou uma. Mas hoje já existe uma discussão maior da Unesp com a Unicamp sobre isso. / M.M.



Aos 35 anos, Unesp quer visibilidade: Universidade paulista presente em 23 cidades do interior busca consolidar sua pós-graduação e estimular parcerias internacionais

Aos 35 anos, a mais jovem e mais descentralizada das três universidades estaduais paulistas quer consolidar sua pós-graduação, internacionalizar seus cursos e, principalmente, aparecer mais para vestibulandos, veículos de comunicação e para a sociedade.

Presente em 23 cidades do Estado de São Paulo, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) quer que sua pesquisa e conhecimento científicos saiam do interior e ganhem outros Estados e países.

"Temos de fazer um trabalho de visibilidade exterior, de fora para dentro. Mas só isso não resolve. Falta colocar a Unesp como opção para a consulta de especialistas, estreitando a relação com a mídia. Não basta fazer um bom trabalho e publicar em revistas científicas. Temos de comunicar para a sociedade", explica o reitor em exercício, Julio Cezar Durigan.

Para aumentar ainda mais essa divulgação, Durigan afirma que a Unesp pretende construir, na Praça da Sé, um centro cultural próprio no ano que vem. "Queremos ter exposições das nossas unidades, música, teatro e cinema, fazendo uma vitrine da universidade naquele ponto, que é o de maior visibilidade do País."

Exterior. Tradicionalmente conhecida como "prima pobre" das instituições públicas de ensino superior de São Paulo e como terceira opção para os futuros universitários, atrás do interesse por vagas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Unesp agora quer controlar mais a criação de cursos de graduação e focar nas parcerias além-mar. Hoje, são cerca de 180 convênios com 40 países.

"Estamos construindo parcerias estratégicas com alguns países, como Canadá, Alemanha e França, por exemplo, facilitando o intercâmbio de alunos, professores e a realização de pesquisas conjuntas", afirma José Celso Freire Júnior, assessor de relações externas da Unesp. "Temos de institucionalizar essa internacionalização."

A universidade está investindo R$ 7 milhões para se internacionalizar. Entre os principais projetos estão os doutorados com co-tutela, em que o aluno tem um orientador brasileiro e um estrangeiro, e a pós-graduação com aulas em inglês, para atrair estudantes estrangeiros.

Trajetória. A Unesp nasceu da conjunção de diversas unidades universitárias, espalhadas pelo interior do Estado (leia mais nesta página). Para o primeiro reitor da Unesp, Luiz Ferreira Martins, a universidade está trilhando o caminho que foi idealizado na época de sua concepção.

"É a realidade com a qual nós sonhamos, nos idos de 1976. Na época, era difícil avaliar o quanto ela se desenvolveria e quanto prestígio ganharia nacional e internacionalmente", afirma o professor. "Novas perspectivas se abrem para a Unesp."

Nos anos 80 e 90, a universidade passou por um período de forte expansão e consolidação da graduação, bem como o desenvolvimento dos programas de pós-graduação.

Hoje, a universidade conta com números que impressionam: são quase 63 milhões de metros quadrados de área, 3.543 docentes, 2 mil laboratórios e 1,3 mil projetos de extensão.

A pró-reitora de pós-graduação da Unesp, Marilza Rudge, destaca que o principal diferencial da Unesp, que é estar presente em diversas cidades ao mesmo tempo, também é um fator que dificulta a comunicação entre as unidades. "A distribuição geográfica da Unesp é nossa fortaleza, mas também um fator complicador. Temos de trabalhar com isso. Neste ano, adquirimos um equipamento de videoconferência de ponta para facilitar o processo", explica.

É por conta desse desenvolvimento que alguns acreditam que o estigma de universidade preterida está ficando para trás. "Temos de entender que a USP é muito antiga, tem uma grande história. A Unicamp foi criada pouco depois da Unesp, mas tem um foco muito claro na geração do conhecimento e na pesquisa. Já a Unesp nasceu para viabilizar uma boa formação para jovens do interior", afirma Herman Voorwald, reitor licenciado que assumiu o cargo de secretário estadual de Educação. "São Paulo tem três grandes universidades, cada uma com o seu formato."

Entre os unespianos ilustres, além de Voorwald, a instituição aponta Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura do governo Lula; Jorge Nagle, ex-secretário estadual da Ciência e Tecnologia; e Mônika Bergamaschi, secretária de Agricultura e Abastecimento do Estado.
Fonte: O Estado de São Paulo em 14 de novembro de 2011.

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