Aula Três: clima, solo e a agricultura irrigada

"Nas horas premeditadas, eu vou cantar prá você
Comprimir com proceder, lá vou eu continuar
Olha a defesa é natural, cada qual para o que nasce
Cada qual com sua classe, seus estilos de agradar
Olha eu nasci pra trabalhar, outros nascem para a briga
Outro vive de intriga, outro vive a cruciar
Outros vivem de enganar, olha o mundo só presta assim
É um bom outro ruim, e não tem jeito prá dá!
Prá acabar de completar, quem tem o mel dá o mel
Quem tem o fel, dá o fel e quem nada tem nada dá!
"
(Papagaio do futuro, por Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Jackson do Pandeiro)

Pod Irrigar - Irrigando cana
Quase toda a safra de cana está terminada no Estado de São Paulo e com ela más notícias. A produtividade média das usinas tem apresentado números preocupantes. Das 80 toneladas de cana por hectare (TCH) que servem de referência, as notícias que chegam mostram que ficaremos no Estado de São Paulo com média próxima ou inferior à 70 TCH este ano.
Aqui no oeste paulista, região de solos arenosos com baixa capacidade de retenção de água no solo, ou com CAD média para os Argisolos da ordem de 1,0 mm/cm as chuvas mais volumosas ultrapassam a zona radicular e logo, estamos com déficit hídrico.
Um consulta aos produtores na região oeste paulista mostram valores entre 53, 66, 75 TCH e até mesmo quem teve 102 TCH na safra passada registra 92 TCH este ano. Nestas produtividades a viabilidade do negócio fica comprometida e a co-geração de energia neste momento de crise é o que trará os excedentes financeiros para os investidores seguirem no negócio sucro-energético.
A baixa produtividade pode ser explicada por problemas agronômicos, em que de fato, há o que melhorar, desde a escolha de variedades melhores adaptadas aos ambientes de produção, tratos culturais e procedimentos de colheita mais adequados.
Todavia, as alterações do tempo, com menos chuvas, ou com maior irregularidade e dispersão desigual é de fato preocupante. Não se pode mais acreditar na rusticidade da cana e desprezar a irrigação como instrumento de recuperação das produtividades dos canaviais.
O uso de sistemas de irrigação em unidades em Goiás, Minas Gerais, na Paraíba, por exemplo, resultaram em produtividades médias superiores a 100 TCH e esta biomassa extra se comparada com os resultados de sequeiro é fundamental não somente para produzir álcool ou açúcar, mas também como bagaço para ser queimado nas caldeiras e assim gerar ainda mais energia, fundamental face a situação energética que o Brasil vive.
Atualmente, é imperativo a discussão sobre qual o sistema mais adequado à cada unidade de produção, quanto desejamos investir e quanto desejamos ter de custeio com os sistemas, qual o manejo da irrigação se deseja praticar, turno completo, suplementar ou salvação, mas acreditar na rusticidade da cana e que as chuvas virão uniformes, bem distribuídas ao longo do ano e volumosas é no mínimo desprezar os fatos que estão sob os nossos olhos! Este foi o tema do Pod Irrigar - o Pod Cast da Agricultura Irrigada. Ouça também os anteriores.

Aulas
Explicamos com uma seca afeta diferentes regiões e a diferença entre a seca do nordeste e a do Rio Grande do Sul e também ampliamos o debate sobre as consequências da falta de água. Várias matérias ilustram a situação. Compilamos notícias de 2014 sobre a falta da chuva e as suas consequências e o Jornal Nacional ilustra tudo na reportagem "Seca no Piauí provoca aumento no número de retirantes - Nos últimos cinco anos, mais de 140 mil pessoas deixaram o estado em busca de trabalho e melhores condições de vida." E também falamos sobre o tema no [Pod Irrigar] de 08/08/2013 e voltamos a tema seca em várias edições em 2014, incluindo as produtividades baixas obtidas na cultura da cana. Combinação melhor não poderia existir para o aprendizado consistente! Mostramos que um dos grandes desafios é conviver com extremos, ou seja, seca e chuva excessiva, e muito ainda temos que fazer, tanto nas pesquisa, como na comunicação e ensino de como trabalhar sobre esta condições. Sobre o tema escrevemos o artigo "Tão quente, tão úmido, tão seco: construindo a resiliência dos agro-sistemas". Mas a agricultura irrigada muda vidas no nordeste com geração de emprego e renda, veja como! E sobre a divulgação de temas técnicos ligados ao meio rural, não deixe de conferir o artigo "A Comunicação adequada".
As aulas também versaram sobre a legislação dos recursos hídricos (Lei 9.433 de 8/01/1997 - Lei das Águas e a Lei 12.787 de 11 de janeiro de 2013 - Política Nacional de Irrigação que destacamos em artigos publicados na imprensa e também no Pod Irrigar), com seus princípios, objetivos e instrumentos. Introduzimos os conceitos de bacia hidrográfica delimitada pelo divisor de águas e tendo o talvegue como canal de escoamento ladeado pela APP e a importância da reserva legal e de ações que promovam a infiltração da água e o escoamento de base em detrimento do escoamento superficial, que vai causar erosão e assoreamento e ainda afetar a qualidade e a disponibilidade de água, especialmente elevando a concentração de ferro, principal problema para a irrigação localizada. A questão ambiental às vezes se torna um entrave e agentes públicos tem ainda que conversar para viabilizar uma agenda de consenso na regularização ambiental.
As propriedades físico-hídricas dos solos foram discutidas quando o conceito de balanço hídrico foi introduzido e assim os efeitos da granulometria do solo (textura) sobre a CAD, Capacidade de Campo, Ponto de Murchamento Permanente, Saturação, evapotranspiração de referência, potencial e atual foram exemplificados. Para relembrar conceitos e as propriedades físico-hídricas dos solos e exercícios consulte PREVEDELLO, C.L. (1996), REICHARDT, K. (1987) e REICHARDT, K. e TIMM, L.C. (2004). E o resultado do balanço hídrico que caracteriza numericamente uma seca foi exemplificado com situações e ações no nordeste e no Rio Grande do Sul, incluindo o bom exemplo da agricultura irrigada e seus resultados. O Professor Paulo Cesar Sentelhas da ESALQ-USP desenvolveu uma série de planilhas interessantes para se fazer o balanço hídrico. Ou se preferir faça o download no canal da AHI! Mas conheça também o Banco de Dados Climáticos do Brasil - EMBRAPA! Sobre evapotranspiração, a Yane fez um didática postagem. Confira!
Numa abordagem mais ampla, discutimos se “O clima define o rumo de um país?” ou ainda a posição de FEMIA e WERRELL (The Center for Climate e Security) em que “Tensões sobre terra, água e alimentos provam que levantes democráticos não têm só raiz política, mas também ambiental” e ainda as questões e previsões divulgadas pelo IPCC. O problema de compatibilizar seca e chuva, muitas vezes na mesma região encabeça a argumentação do "Por que Irrigar?" que tem sequência com a discussão de dados de evapotranspiração e chuva no noroeste paulista, onde vivemos, sugestões de leitura são reforçadas: Importância da irrigação no desenvolvimento do Agronegócio e Agricultura irrigada. Detalhamos estas questões sobre os efeitos de um clima adverso na postagem relativa à Aula Dois, com os atuais trabalhos publicados sobre condições extremas. O tema é amplo e controverso, mas sobre mudanças climáticas alguns autores de destaque são Richards (1993), Karl et al. (1999), Manton et al. (2001), Alexander et al. (2006), Vincent et al. (2005), Dufek and Ambrizzi (2006), Wang et al. (2004), Kharin and Zwiers (2005), Hayes et al. (2011), IPCC (2007) e mais recentemente indícios de alteração do clima global foram descritos por DURACK (2012) para quem “mudança climática acelera ciclo da chuva e velocidade da evaporação e precipitação pode ficar até 24% maior até o fim deste século”. Baseado na alteração da salinidade dos mares nesses últimos 50 anos (processo se acentuou a partir de 2000) afirma que “os ricos ficam mais ricos”. Ou seja, terras secas receberão menos chuvas, enquanto que regiões úmidas ganham tempestades cada vez mais intensas. No Brasil DUFEK e AMBRIZZI (2007) detectaram aumento no número de dias secos consecutivos e utilizando séries do Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE, 1950-1999) dizem que essa alteração nos padrões climáticos começou a partir de 1985. BLAIN (2011, 2012) descreve um atraso na retomada da estação chuvosa em diferentes localidades do Estado de São Paulo e o início desse atraso ocorreu a partir de 1983/84. A AHI fez análises superficiais com os dados que dispomos e não chegamos a conclusão se se trata de fenômeno cíclico ou uma real alteração no regime de chuvas, mas como compatibilizar seca e chuva intensas é um dos grandes desafios atuais. Mas é fato que o monitoramento climático é necessário e deve ser ampliado para todas as regiões. Especificamente para a agropecuária a melhor forma de conviver com a falta das chuvas é investir em sistemas de irrigação que farão a oferta da água no momento certo e quantidade adequada para garantir as elevadas e necessárias produtividades e que farão com que o lucro seja a força motriz do desenvolvimento sócio-econômico de toda uma região, através dos efeitos multiplicadores da agricultura irrigada. Mas o importante não é somente adquirir equipamentos de irrigação e sim planejar esta aquisição levando em consideração todos os aspectos locais de solo, clima, disponibilidade e qualidade da água e ainda das culturas que se pretende cultivar. A consulta à um profissional experiente também é fundamental para que o investimento seja efetivo.
Já é possível acompanhar as nossas aulas através do Manual de Irrigação, mas na parte ilustrativa, está toda disponível na aba Atividades Acadêmicas, bem como as listas de exercícios, são muitos à disposição de todos, com partes teóricas e exercícios para relembrar física do solo e agrometeorologia.


Usamos intensamente nossos canais de comunicação baseados na Internet, mas de forma complementar, pois os livros textos são essenciais. O Manual de Irrigação é o mais tradicional e servirá ao longo de todo o curso, fiquem atentos apenas nas representações que utilizamos, que muitas diferem dos autores acima, mas tem o mesmo significado. Uma lista com artigos interessantes para ser lidos foi disponibilizada na postagem da semana passada. Leiam sem moderação! No canal TEXTOS TÉCNICOS do Canal da Área de Hidráulica e Irrigação da UNESP Ilha Solteira estão disponíveis a maior parte dos artigos técnicos e os assinados sobre estes temas desenvolvidos pela AHI

Água Disponível no Solo brasileiro
Na imagem temos três conceitos inseridos e que todos os profissionais da agricultura devem conhecer: Por que Irrigar, Onde Irrigar e Armazenamento de Água no Solo, ou o balanço hídrico. Comecemos pelo terceiro conceito. No mapa, em vermelho representa o déficit de água no solo. Em um perfil de solo, a quantidade de água ideal de armazenamento é aquela representada pela diferença entre a umidade na capacidade de campo e a no ponto de murchamento permanente, multiplicada pela profundidade efetiva do sistema radicular. À isso chamamos de CAD - Capacidade de Água Disponível. A AD - Água Disponível no Solo (capacidade hídrica do solo, como na figura) é a diferença entre a umidade atual e a umidade no ponto de murchamento permanente, multiplicada pela profundidade efetiva do sistema radicular. Podemos exprimir esta relação em milímetros, mas também em porcentagem e para tanto a AD (%) = (AD/CAD) x 100. É o que se visualiza no gráfico abaixo, com grande parte do solo brasileiro "pedindo" água da chuva ou da irrigação. Os valores da umidade na capacidade de campo e ponto de murchamento permanente são obtidos na curva de retenção de água no solo e variam de acordo com a textura (granulometria) e compactação do solo (densidade aparente). 


Agricultura - Cana - Irrigação - Uso da água
O Irrigacana - I Seminário Brasileiro de Irrigação de Cana-de-Açúcar com Água reuniu todos os atores que compõem o setor sucroenergético para debater e apresentar experiências bem-sucedidas com irrigação de usinas brasileiras e do exterior. Com organização da RPA Consultoria e a realização do Grupo de Irrigação e Fertirrigação de Cana-de-Açúcar- GIFC, entidade que reúne profissionais das principais usinas do país, Confira a repercussão do evento! Outra iniciativa em prol do setor é o projeto "Caminhos da Cana".

No Prêmio ANA 2014, um Estado que nunca tinha ganhado a premiação saiu com dois vencedores: o Rio de Janeiro. Trabalhos fluminenses venceram as categorias Imprensa e Organismos de Bacia. Os demais cinco Troféus Prêmio ANA, peças criadas pelo mestre vidreiro italiano Mario Seguso, foram para o Ceará (Governo), Minas Gerais (ONG), Pará (Ensino), Paraná (Empresas) e Pernambuco (Pesquisa e Inovação Tecnológica). Conheça os vencedores ao longo dos anos por Estado. O trabalho coordenado pelo Engenheiro Agrônomo Rodrigo Franco e Frederico Calazans da Codevasf em que converteremos perímetros irrigados por superfície para irrigação localizada chegou na final e representam uma abordagem diferente da oferta de água aos lotes. Na proposta executada, ao invés do abastecimento coletivo da água na área irrigada, cada lote conta com bombeamento individualizado. A água chega pelos canais e é armazenada em reservatórios em cada lote e daí bombeada para a área irrigada onde linhas laterais pressurizadas distribuem a água ao solo. 

Infra estrutura - Recursos hídricos - Energia - Clima

Reservatórios de usinas hidrelétricas frustram expectativa e baixam em novembro. Em parte das regiões SE, CO e NE, nível de chuvas foi o mais baixo em quase um século e o setor já prevê que, no próximo ano, todas as térmicas continuarão ligadas, o que dever encarecer a energia. Os principais reservatórios de água para geração de energia elétrica no país se esvaziaram em novembro, primeiro mês do período chuvoso. O comportamento esperado era o oposto: que estivessem se enchendo para, em abril de 2015, com o fim das chuvas, terem reservas suficientes para garantir energia e água durante os meses secos (de maio a outubro). Outro fato triste é que 59% das obras de transmissão no país estão atrasadas. Dos 388 projetos em andamento, 229 já perderam o prazo, contra apenas 81 em dia. Em crise por água há quatro anos, a California incentiva o uso da energia solar. Para melhorar o desempenho dos equipamentos a Califórnia tenta virar seus painéis solares para o poente. Durante anos, construtores montaram painéis solares voltados para o norte (no hemisfério Sul) ou para o sul (no hemisfério Norte). Na teoria, isso maximizaria o uso dos geradores, já que faz com que eles capturem o maior número de horas de insolação por dia. O problema é que a energia é capturada em horários que não são os de maior utilidade nem para o próprio usuário nem para a rede de energia em geral. A recomendação, portanto, passou a ser a de que os painéis sejam voltados para o oeste, lado em que o sol se põe, para que a maior parte da energia seja gerada ao final da tarde, no momento em que é mais necessária.

Carlos Rittl escreve o artigo "Estagflação climática" em que faz o alerta "Em 2015, se a seca persistir, o Brasil estará na bizarra situação de poluir mais por uso de energia e não ter luz para todo mundo." Convido a leitura do interessante artigo.

Por aqui na região noroeste paulista o rio Paraná a montante da Usina de Ilha Solteira voltou a subir a partir de 16 de novembro de 2014 quando bateu na cota 319,23 metros e agora também abastece o rio Tietê através do Canal de Pereira Barreto. Na sexta-feira (dia 5 de dezembro) a conta de montante estava em 319,83 metros (280,40 metros a juzante) com o lago apresentando -53,44% do volume útil.
Na semana passada falamos da dispersão das chuvas e esta semana algumas cenas chamam a atenção. Na semana o volume total de chuvas no noroeste paulista variou entre 22 mm em Sud Mennucci a 63 mm em Marinópolis ou 83 mm em Pereira Barreto (Estação Bonança distante apenas 9 km da estação em Sud Mennucci). De fato, na sexta-feira, entre Votuporanga e Ilha Solteira, no final da tarde, pegamos duas grandes "pancadas de chuva" durante a viagem.

 Rodovia dos Barrageiros em 5 de dezembro de 2014.

Temos também o relato do agricultor que após as chuvas acreditava estar em condições de trabalhar seu solo, mas o mesmo se mostrou com elevada umidade. Confira o aconteceu!


Também nas cidades problemas. Temos trabalhado e defendido obras de contenção das águas das chuvas que mantenham o leito natural dos córregos, defendendo-o com estruturas tipo gabiões e dispersores de energia, associados com áreas verdes no seu entorno criando uma ambiente de harmonia e proteção da água das chuvas. São projetos hidráulicos muito complexos exigindo muitos cálculos. Mas, muitas das soluções implantadas nos núcleos urbanos foi a de "entubar" ou canalizar os córregos. Chuvas intensas às vezes surpreendem e sem a interceptação da água pelas folhas das árvores, há o imediato escorrimento pelo solo. Situações como estas que aconteceu em Presidente Prudente são cada vezes mais frequentes trazendo transtorno à população.




Fotos cedidas por Renato Martins.

Campos esportivos
Preservação precária dos gramados e alto custo dos ingressos afetaram a boa prática do futebol no Brasileirão é a opinião de José Carlos Marques, coordenador do Grupo de Estudos em Comunicação Esportiva e Futebol da Unesp em Bauru, que acredita que os campos de futebol poderiam ter sido melhores utilizados pela CBF. Escute!

Empreendedorismo - Negócios - Oportunidade - Carreira

Entretenimento
Lá em cima acompanhando a letra, a versão original, aqui, uma versão mais moderna e "misturada" de Papagaio do futuro. Curtam sem moderação!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Por que a água evapora sem estar a 100° C ?

A Importância da DBO

Pivô central: história e características